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quarta-feira, 27 de abril de 2011

ARTE GREGA - INTRODUÇÃO


Discóbolo de Miron
   Os gregos foram os primeiros artistas realistas da história, ou seja, os primeiros a se preocupar em representar a natureza tal qual ela é. Para fazerem isso, foi fundamental o estudo das proporções, em cuja base se encontra a consagrada máxima segundo a qual o homem é a medida de todas as coisas. Podem-se distinguir quatro grandes períodos na evolução da arte grega: o geométrico (séculos IX e VIII a.C.), o arcaico (VII e VI a.C.), o clássico (V e IV a.C.) e o helenístico (do século III ao I a.C.).

Ânfora do Período Geométrico
   No chamado período geométrico, a arte se restringiu à decoração de variados utensílios e ânforas. Esses objetos eram pintados com motivos circulares e semicirculares, dispostos simetricamente. A técnica aplicada nesse trabalho foi herdada das culturas cretense e micênica. Passado muito tempo, a partir do século VII a.C., durante o denominado período arcaico, a arquitetura e a escultura experimentaram um notável desenvolvimento graças à influência dessas e outras culturas mediterrâneas.

Também pesaram o estudo e a medição do antigo megaron, sala central dos palácios de Micenas a partir da qual concretizaram os estilos arquitetônicos do que seria o tradicional templo grego. Entre os séculos V e IV a.C., a arte grega consolida suas formas definitivas. 
    Na escultura, somou-se ao naturalismo e à proporção das figuras o conceito de dinamismo refletido nas estátuas de atletas como o Discóbolo de Miron e o Doríforo de Policleto.

Na arquitetura, em contrapartida, o aperfeiçoamento da óptica (perspectiva) e a fusão equilibrada do estilo jônico e dórico trouxe como resultado o Partenon de Atenas, modelo clássico por excelência da arquitetura dessa época.No século III, durante o período helenístico, a cultura grega se difunde, principalmente graças às conquistas e expansão de Alexandre Magno, por toda a bacia do Mediterrâneo e Ásia Menor.


ARTE GREGA - ESCULTURA

As primeiras esculturas gregas (século IX a.C.) não passavam de pequenas figuras humanas feitas de materiais muito brandos e fáceis de manipular, como a argila, o marfim ou a cera. Essa condição só se alterou no período arcaico (séculos VII e VI a.C.), quando os gregos começaram a trabalhar a pedra. Os motivos mais comuns das primeiras obras eram simples estátuas de rapazes (kouros) e moças (korés). As figuras esculpidas apresentavam formas lisas e arredondadas e plasmavam na pedra uma beleza ideal.

Essas figuras humanas guardavam uma grande semelhança com as esculturas egípcias, as quais, obviamente, lhes haviam servido de modelo. Com o advento do classicismo (séculos V e IV a.C.), a estatuária grega foi assumindo um caráter próprio e acabou abandonando definitivamente os padrões orientais. Foi o consciencioso estudo das proporções que veio oferecer a possibilidade de se copiar fielmente a anatomia humana, e com isso os rostos obtiveram um ganho considerável em expressividade e realismo.

Mais tarde introduziu-se o conceito de contrapposto - posição na qual a escultura se apoiava totalmente numa perna, deixando a outra livre, e o princípio do dinamismo tomou forma nas representações de atletas em plena ação. Entre os grandes artistas do classicismo estão: Policleto, Miron, Praxíteles e Fídias. Contudo, não se pode tampouco deixar de mencionar Lisipo, que, nas suas tentativas de plasmar as verdadeiras feições do rosto, conseguiu acrescentar uma inovação a esta arte, criando os primeiros retratos.

Durante o período helênico (século III a.C.), verificou-se uma ênfase nas formas herdadas do classicismo, e elas foram se sofisticando. O resultado disso foi o surgimento de obras de inigualável monumentalidade e beleza, como O Colosso de Rodes, de trinta e dois metros de altura. É interessante esclarecer que, tanto por sua função religiosa quanto pela sua importância como elemento decorativo, a escultura estava estreitamente ligada à arquitetura. Isso se evidencia nas estátuas trabalhadas nas fachadas, colunas e interiores dos templos.

ARTE GREGA - ARQUITETURA




Não resta dúvida de que o templo foi um dos legados mais importantes da arte grega ao Ocidente. Suas origens devem ser procuradas no megaron micênico. Este aposento, de morfologia bastante simples, apesar de ser a acomodação principal do palácio do governante, nada mais era do que uma sala retangular, à qual se tinha acesso através de um pequeno pórtico (pronaos), e quatro colunas que sustentavam um teto parecido com o atual telhado de duas águas. No princípio, esse foi o esquema que marcou os cânones da edificação grega.

Foi a partir do aperfeiçoamento dessa forma básica que se configurou o templo grego tal como o conhecemos hoje.No princípio, os materiais utilizados eram o adobe - para as paredes - e a madeira - para as colunas. Mas, a partir do século VII a.C. (período arcaico), eles foram caindo em desuso, sendo substituídos pela pedra. Essa inovação permitiu que fosse acrescentada uma nova fileira de colunas na parte externa (peristilo) da edificação, fazendo com que o templo obtivesse um ganho no que toca à monumentalidade.

Surgiram então os primeiros estilos arquitetônicos: o dórico, ao sul, nas costas do Peloponeso, e o jônico, a leste. Os templos dóricos eram em geral baixos e maciços. As grossas colunas que lhes davam sustentação não dispunham de base, e o fuste tinha forma acanelada. O capitel, em geral muito simples, terminava numa moldura convexa chamada de eqüino. As colunas davam suporte a um entablamento (sistema de cornijas) formado por uma arquitrave (parte inferior) e um friso de tríglifos (decoração acanelada) entremeado de métopas.

A construção jônica, de dimensões maiores, se apoiava numa fileira dupla de colunas, um pouco mais estilizadas, e apresentava igualmente um fuste acanelado e uma base sólida. O capitel culminava em duas colunas graciosas, e os frisos eram decorados em altos-relevos. Mais adiante, no período clássico (séculos V e IV a.C.), a arquitetura grega atingiu seu ponto máximo. Aos dois estilos já conhecidos veio se somar um outro, o coríntio, que se caracterizava por um capitel típico cuja extremidade era decorada por folhas de acanto.

As formas foram se estilizando ainda mais e acrescentou-se uma terceira fileira de colunas. O Partenon de Atenas é a mais evidente ilustração desse brilhante período arquitetônico grego.Na época da hegemonia helenística (séculoIII a.C.), a construção, que conservou as formas básicas do período clássico, alcançou o ponto máximo de suntuosidade. As colunas de capitéis ricamente decorados sustentavam frisos trabalhados em relevo, exibindo uma elegância e um trabalho dificilmente superáveis.

ARTE GREGA - PINTURA


Para falar da pintura grega é necessário fazer referência à cerâmica, já que foi precisamente na decoração de ânforas, pratos e utensílios, cuja comercialização era um negócio muito produtivo na antiga Grécia, que a arte da pintura pôde se desenvolver. No começo, os desenhos eram simplesmente formas geométricas elementares - de onde se originou a denominação de geométrico conferida a esse primeiro período (séculos IX e VIII a.C.) - que mal se destacavam na superfície.



Com o passar do tempo, elas foram gradativamente se enriquecendo, até adquirir volume. Surgiram então os primeiros desenhos de plantas e animais guarnecidos por adornos chamados de meandros. Numa etapa próxima, já no período arcaico (séculos VII e VI a.C.), começou a ser incluída nos desenhos a figura humana, que apresentava um grafismo muito estilizado. E, com o aparecimento de novas tendências naturalistas, ela passou a ser cada vez mais utilizada nas representações mitológicas, o que veio a aumentar sua importância.

As cenas eram apresentadas em faixas horizontais paralelas que podiam ser visualizadas ao se girar a peça de cerâmica. Com a substituição do cinzel pelo pincel, os traçados se tornaram mais precisos e ricos em detalhes. As peças de cerâmica pintadas começam a experimentar uma perceptível decadência durante o classicismo (séculos IV e V a.C.). No entanto, passado um bom tempo, elas acabaram ressurgindo triunfantes no período helenístico (século III), totalmente renovadas, cheias de cor e ricamente decoradas.



Aquíles joga astragalos






terça-feira, 12 de abril de 2011

BIZANTINA - INTRODUÇÃO



  A arte bizantina teve seu centro de difusão em Bizâncio, mais exatamente na cidade de Constantinopla, e se desenvolveu a partir do século IV como produto da confluência das culturas da Ásia Menor e da Síria, com elementos alexandrinos. As bases do império eram três: a política, a economia e a religião. Não é de estranhar, portanto, que a arte tivesse um papel preponderante tanto como difusor didático da fé quanto como meio de representação da grandeza do imperador, que governava, segundo o dogma, em nome de Deus.

   Para manter a unidade entre os diversos povos que conviviam em Bizâncio, Constantino oficializou o cristianismo, tendo o cuidado de enfatizar nele aspectos como rituais e imagens dos demais grupos religiosos. Isso explica o fato de ícones de Jesus e Maria provirem da Síria, Iraque e Egito, assim como se deu com a música e os cânticos. Também foram construídos centros de culto, igrejas e batistérios, com a adoção da forma das basílicas, da sala de audiência do rei (basileus), junto com o mercado das cidades gregas.

   O apogeu cultural de Bizâncio teve lugar sob o reinado de Justiniano (526-565 d.C.). Pertence a essa época um dos edifícios mais representativos da arquitetura bizantina: a Igreja de Santa Sofia. Ao período iconoclasta, em que foram destruídas e proibidas as imagens (726-843 d.C.), seguiu-se uma época de esplendor e ressurgimento cultural na qual a arte bizantina foi para o Ocidente, difundindo-se pelos países ou cidades que comercial ou politicamente continuavam em contato com Bizâncio: Aquisgran, Veneza e países eslavos, entre outros.

BIZANTINA - ARQUITETURA


Catedral de Santa Sofia
   Uma vez estabelecido na Nova Roma (Constantinopla), Constantino (270-337 d.C.) começou a renovação arquitetônica da cidade, erigindo teatros, termas, palácios e sobretudo igrejas, já que se fazia necessário, uma vez oficializado o cristianismo, imprimir seu caráter público definitivo em edifícios abertos ao culto. As primeiras igrejas seguiram o modelo das salas da basílica (casa real) grega: uma galeria ou nártex, às vezes ladeada por torres, dava acesso à nave principal, separada por fileiras de colunas de uma ou duas naves laterais.
   No lado oeste, o transepto, ou nave principal, se comunicava com a abside. O teto era de alvenaria e madeira. Graficamente falando, as primeiras basílicas eram como um templo grego virado para dentro. A simbologia dessas igrejas não poderia ser mais precisa: o espaço central alongado era o caminho que o paroquiano percorria até a consubstanciação, simbolizada na abside. Esse modelo foi posteriormente substituído pelas plantas centralizadas circulares, como a dos panteões romanos e as plantas octogonais.

San Vitale - Ravenna
Chegaram até nossos dias as igrejas mais importantes do reinado de Justiniano (526-565): Santa Sofia, Santa Irene e São Sérgio e Baco. Foi nessa época que se iniciou a construção das igrejas de planta de cruz grega, cobertas por cúpulas em forma de pendentes, conseguindo-se assim fechar espaços quadrados com teto de base circular. Esse sistema, que parece já ter sido utilizado na Jordânia em séculos anteriores e inclusive na Roma antiga, se transformou no símbolo do poderio bizantino.



Planta em corte da Catedral de Santa Sofia


Interior da Catedral de Santa Sofia

   A arquitetura de Bizâncio se difundiu rapidamente pela Europa ocidental, mas adaptada à economia e possibilidades de cada cidade. Não se deve esquecer que Santa Sofia foi construída sem a preocupação com gastos, algo que os demais governantes nem sempre podiamse permitir. São Vital e Santo Apolinário Novo, em Ravena, a capela palaciana de Aquisgran, São Marcos, em Veneza, e o mosteiro de Rila, na Bulgária, são igrejas que melhor representaram e reinterpretaram o espírito da arquitetura bizantina.


Interior mausoleu Gala Placidia

BIZANTINA - ESCULTURA

A escultura bizantina não se separou do modelo naturalista da Grécia, e ainda que a Igreja não estivesse muito de acordo com a representação estatuária, não obstante, essa foi a disciplina artística em que melhor se desenvolveu o culto à imagem do imperador. Também tiveram grande importância os relevos, nos quais os soberanos imortalizaram a história de suas vitórias. Das poucas peças conservadas se deduz que, apesar de seu aspecto clássico, a representação ideal superou a real, dando-se preferência à postura frontal, mais solene.

Não menos importante foi a escultura em marfim. As peças mais correntes eram os chamados dípticos consulares, de uma qualidade e maestria incomparáveis, que, à guisa de comunicação, os funcionários enviavam aos demais altos dignitários para informar sua nomeação. Esse modelo mais tarde se adaptou ao culto religioso em forma de pequeno altar portátil. Quanto à ourivesaria, proliferaram os trabalhos em ouro e prata, com incrustações de pedras preciosas. Porém, poucos exemplares chegaram até nossos dias.

BIZANTINA - PINTURA


   A pintura bizantina é representada por três tipos de elementos estritamente diferenciados em sua função e forma: os ícones, as miniaturas e os afrescos. Todos tiveram um caráter eminentemente religioso, e embora predominassem as formas decorativas preciosistas, não faltou a essa disciplina o misticismo profundo comum a toda a arte bizantina. Os ícones eram quadros portáteis originados da pintura de cavalete da arte grega, cujos motivos se restringiam à Virgem Maria, sozinha ou com o Menino Jesus, ou ao Retrato de Jesus.
   As miniaturas eram pinturas usadas nas ilustrações ou nas iluminuras dos livros e, como os ícones, tiveram seu apogeu a partir do século IX. Sua temática era limitada pelo texto do livro, geralmente de conteúdo religioso ou científico. Os afrescos tiveram sua época de maior esplendor em Bizâncio, quando, a partir do século XV, por problemas de custo, suplantaram o mosaico. A pintura ganhou assim em expressividade e naturalismo, acentuando sua função narrativa, mas renunciando a parte de seu simbolismo.

  Sozinho ou combinado com a pintura e com mais preponderância do que ela, pelo menos entre os séculos VI e VII, a técnica figurativa mais utilizada foi o mosaico. Suas origens remontam à Grécia, mas foi em Bizâncio que se usou o mosaico pela primeira vez para decorar paredes e abóbadas e não apenas pisos. No início, os motivos eram extraídos da vida cotidiana da corte, mas depois adotou-se toda a iconografia cristã, e o mosaico se transformou no elemento decorativo exclusivo de locais de culto (igrejas, batistérios).
  Tanto na pintura quanto nos mosaicos seguiram-se os mesmos cânones do desenho: espaços ideais em fundos dourados, figuras estilizadas ornadas com coroas de pedras preciosas para representar Cristo, Maria, os santos e os mártires e paisagens mais inclinadas para o abstrato, em que uma árvore simbolizava um bosque, uma pedra, uma montanha, uma onda, um rio. A Igreja se transformava, assim, no modelo terreno do paraíso prometido. O homem era o cânon, a medida e a imagem de Deus.  

Esses princípios básicos de representação eram estabelecidos formalmente: primeiro se procurava fazer o contorno da figura, depois as formas do corpo, as roupas e os acessórios e, finalmente, o rosto. A variedade representativa mais interessante se deu em torno da figura de Maria. Havia tipos de simbologia definidos. Por exemplo, com a mão direita no peito e o Menino Jesus na esquerda, era a Hodigitria (a condutora); acompanhada do monograma de Cristo era a Nikopeia (a vitoriosa) e amamentando o Menino Jesus, a Galaktotrophusa (a nutriz).

quinta-feira, 7 de abril de 2011

MITOLOGIA GRECO – ROMANA / HÉRACLES - HÉRCULES



   Héracles talvez seja o herói da mitologia clássica mais conhecido universalmente, e um daqueles que, desde a Antiguidade, tiveram mais fortuna entre os artista. Chamado Hércules pelos romanos, sua vida e as lendas que a compõem não são um mito em sentido estrito, mas, como diria Pierre Grimal, um ciclo heróico. O mito pressupõe uma visão do universo, da vida, e tem uma dimensão religiosa que a figura de Héracles não oferece. Já um ciclo heróico é caracterizado por histórias "cuja única unidade é fornecida pela identidade do personagem que é seu herói principal". As mais célebres de suas incontáveis aventuras são aquelas que, ao longo do tempo e por obra dos mitógrafos gregos desde a época pré-helenística até o fim da Antiguidade, ganharam o título de "Os doze trabalhos de Héracles".
   Segundo Homero, Héracles era filho de Zeus e de Alcmene, esposa de Anfitrião. Aproveitando-se da ausência deste último, o deus assumiu a aparência dele e dormiu com a mulher. Assim nasceu o semideus, dotado de uma força incomparável e de um caráter colérico. Assim como em relação a todas as amantes de Zeus e aos respectivos filhos, Hera (Juno) alimentará rancor também contra Héracles, que deverá sofrer suas perseguições. Num momento de loucura suscitado pela deusa, Héracles mata os três filhos do rei de Tebas. O oráculo de Delfos estabelece que o herói, para expiar sua culpa, deve colocar-se a serviço de Euristeu, rei de Tirinto, que lhe impõe os famosos doze trabalhos. Assim, Héracles deve enfrentar o Leão de Neméia, animal de dimensões e ferocidade extraordinárias, livrar os arredores de Lerna da terrível Hidra, serpente de nove cabeças, ou capturar Cérbero, o cão de cem cabeças, guardião do Hades, o reino dos mortos.
   Os trabalhos de Héracles, assim como outras lendas ligadas ao herói, são figurados já desde o século VII a.C., quando surge na cerâmica grega a técnica da decoração em figuras negras. Nesse e em todo o século seguinte, e ainda depois, as divindades e os heróis são representados em figuras negras e contornos entalhados contra o fundo alaranjado da argila, em composições quase seguramente inspiradas em obras pictóricas (madeira e afrescos) que se perderam, mas cuja existência é atestada pelas fontes literárias.
   Entre os muitos exemplos, destacam-se uma ânfora ática do século VI a.C. com a Disputa pela Corça de Cerinia entre Héracles, Apolo e Ártemis, sob olhar de AtenaI (Museu do Vaticano) e duas ânforas do início do século V a.C. (Paris, Museu do Louvre) que mostram Hércules golpeando a Hidra de Lerna com um machado e Hércules luta contra as aves Estinfálidas. Nestes dois exemplos, são bem visíveis os atributos tradicionais do herói: a pele de leão (a do leão de Neméia) e a clava. Ás vezes, semideus também é representado com uma espada, presente de Hermes (Mercúrio), ou com arco e flechas, dados pelo deus Apolo.
   Na segunda metado do século VI a.C., aparecem também os primeiros vasos de figuras vermelhas, que têm contornos negros no interior e se recortam sobre fundo negro. Com essa técnica, durante cerca de um século os ceramistas não só realizam o escorço das figuras, mas também mostram a profundidade espacial e a expressão psicológica dos personagens. Entre os exemplos mais importantes desse estilo aplicado á figura de Héracles, citemos a cratera em cálice (vaso de grandes dimensões, no qual se misturavam o vinho e a água servidos nos banquetes) de c. 510 a.C., do ceramista Eufrônio, com a representação da luta entre Héracles e Anteu, e o canjirão com a cena de O jovem Hércules estrangulando as serpentes, de c. 480 a.C. (Paris, Museu do Louvre).
   Também são muitas as representações de Héracles na estatuária antiga. Entre os exemplos mais interessantes, há dois: o Hércules Lansdowne (Malibu, P. Getty Foundation) e o Hércules de Farnese, proveniente das Termas de Caracala (Museu Arqueológico Nacional, Nápoles), ambos do século IV a.C., e nos quais o herói exibe a clava e a pele de leão, símbolos de sua força e dos seus trabalhos. Não faltam os exemplos de mosaicos grecos-romanos ou de arte etrusca que têm como tema as gestas dele.
   As figuras de Héracles se mantêm como um tema preferido pelos artistas e pelos respectivos clientes até os primeiros séculos da era cristã, para depois desaparecer do horizonte artístico, junto com os outros temas da mitológica, no decorrer dos séculos seguintes. Uma de suas representações tardias na arte antiga é a da pintura parietal do século I d.C. proveniente de Herculano, com Hércules estrangulando as serpentes, hoje guardada no Museu Arqueológico Nacional, Nápoles.
   Como outros heróis e deuses da mitologia clássica, Héracles reaparecerá na arte durante o século XV, em Florença (Renascimento). O escultor e pintor Antonio Del Pollaiolo foi um dos primeiros, na era moderna, a utilizar temas exclusivamente mitológicos. Por volta de 1460 ele pintou, a pedido de Lourenço o Magnífico, três grandes telas sobre os trabalhos de Hércules, as quais infelizmente se perderam. Duas madeirinhas de Pollaiolo com Hércules e Hidra e Hércules e Anteu (Florença, Galleria degli Uffizi) são consideradas evocações dessas obras. Nelas, já não vemos o linearismo e a bicromia das representações dos vasos antigos, mas uma restituição clássica, decididamente anatômica, das figuras, além de um chamamento ás poderosas figuras masculinas da estatuária antiga, que estava sendo redescoberta justamente no decorrer do século XV. As cenas são impregnadas de energia, graças às nervosas linhas de contorno que compõem a figura de Héracles e as dos seus adversários. Em Hércules e a Hidra, a pele de leão se infla com o enérgico salto do herói para a frente e a ponta do manto descreve uma curva, assim como os longos pescoços da Hidra e sua cauda que se enrola a uma perna de Héracles. Além disso, as cenas não se recortam mais sobre um fundo monocromático, abstrato, mas sobre uma paisagem a perder de vista, conquista da pintura flamenga e dos estudos sobre a perspectiva.
   Já então visto como a encarnação do bem que triunfa sobre o mal, segundo a interpretação neoplatônica da lenda, Héracles torna-se mais uma vez um assunto popular, destinado a perdurar. O mesmo Pollaiolo representa Hércules e Anteu num pequeno bronze de c. 1475 (Florença, Museu Del Bargello). Vincenzo de'Rossi, escultor florentino do século XVI, dá sua versão do tem num grupo escultórico que hoje se encontra no Palazzo Vecchio, em Florença; em 1599, Giambologna realiza, sempre por encomenda florentina, o grupo marmóreo com Hércules e o centauro Nessus

Hércules estrangulando o leão de Neméia, Peter Paul Rubens, 1638-1639
   Alguns anos mais tarde, Rubens pinta Héracles estrangulando o leão de Neméia (Bucareste, Museu Nacional de Arte Romena) e Héracles no jardim das Hespérides (Turim, Galleria Sabauda); o pintor espanhol Francisco de Zurbarán fornece, em Hércules e Cérbero (Madri, Museu do Prado), uma versão tenebrosa do episódio no qual o herói enfrenta o cão guardião do reino dos mortos. Mais tarde, nos primeiros anos do século XIX, o escultor Antonio Canova explora o tema da cólera de Héracles executando um grupo escultórico de grande dramaticidade, no qual mostra o herói arremessando no ar seu amigo Licas (Possagno, Gipsoteca Canoviana). Uma versão entre o fantástico e o fantasmagórico de um episódio da vida do herói nos é dada por Héracles e a Hidra de Lerna, de Gustave Moreau. Seria errôneo, contudo, atribuir a popularidade do herói entre os artistas exclusivamente ao aspecto simbólico do bem que triunfa sobre o mal. Talvez, mais do que qualquer outra coisa, os artistas sejam atraídos pelo caráter dramático e exasperado de suas aventuras.

Héracles e a Hidra de Lerna, de Gustave Moreau - 1876

quarta-feira, 6 de abril de 2011

ARTE EGÍPCIA - INTRODUÇÃO


Em todos os tempos, a civilização egípcia foi, sem dúvida, uma das culturas orientais mais admiradas e estudadas pelas nações ocidentais. As investigações sobre essa antiga e misteriosa civilização atingiram o auge na Idade Média e no renascimento, mas foi somente no período neoclássico que avançaram decisivamente. Com base na pedra Rosetta, encontrada por um soldado de Napoleão, o cientista francês Jean-François Champollion decodificou em 1799 uma série muito importante de hieróglifos, levando em conta as traduções em grego e em escrita demótica feitas na pedra.

A partir de então constituiu-se a ciência da egiptologia. Sua aplicação imediata serviu para a tradução e interpretação dos textos pintados e gravados em muros e esculturas de templos funerários. Esses textos, por sua vez, revelavam a sua função: repouso de reis e nobres e de seus incalculáveis tesouros, após sua morte. Muito pouco, no entanto, resistiu até os nossos dias. Os magníficos tesouros dos faraós foram, em sua época, alvo de assaltantes e ladrões, que ignoraram seu caráter intocável e sagrado.

As obras conservadas mais significativas pertencem ao chamado império novo. A imponência e beleza dos templos de Luxor e Carnac e o delicado trabalho de ourivesaria também em objetos de uso diário refletem o apogeu de uma cultura que perseguiu, na beleza indescritível das manifestações artísticas, uma sincera oferenda a suas inúmeras divindades, cada qual para uma situação. Essas entidades costumavam ser representadas por esculturas com corpo de homem e cabeça de animal, vestidas com os mesmos trajes usados pelo faraó, um deus na terra.

ARTE EGÍPCIA - ARQUITETURA


As pirâmides são sem dúvida o paradigma da arquitetura egípcia. Suas técnicas de construção continuam sendo objeto de estudo para engenheiros e historiadores. A pirâmide foi criada durante a dinastia III, pelo arquiteto Imhotep, e essa magnífica obra lhe valeu a divinização. No início as tumbas egípcias tinham a forma de pequenas caixas; eram feitas de barro, recebendo o nome de mastabas (banco). Foi desse arquiteto a idéia de superpor as mastabas, dando-lhes a forma de pirâmide.

Também se deve a Imhotep a substituição do barro pela pedra, o que sem dúvida era mais apropriado, tendo em vista a conservação do corpo do morto. As primeiras pirâmides foram as do rei Djeser, e elas eram escalonadas. As mais célebres do mundo pertencem com certeza à dinastia IV e se encontram em Gizé: Quéops, Quéfren e Miquerinos, cujas faces são completamente lisas. A regularidade de certas pirâmides deve-se aparentemente à utilização de um número áureo, que muito poucos arquitetos conheciam.

Outro tipo de construção foram os hipogeus, templos escavados nas rochas, dedicados a várias divindades ou a uma em particular. Normalmente eram divididos em duas ou três câmaras: a primeira para os profanos; a segunda para o faraó e os nobres; e a terceira para o sumo sacerdote. A entrada a esses templos era protegida por galerias de estátuas de grande porte e esfinges. Quanto à arquitetura civil e palaciana, as ruínas existentes não permitem recolher muita informação a esse respeito.

ARTE EGÍPCIA - ESCULTURA E OURIVESARIA


A escultura egípcia foi antes de tudo animista, encontrando sua razão de ser na eternização do homem após a morte. Foi uma estatuária principalmente religiosa. A representação de um faraó ou um nobre era o substituto físico da morte, sua cópia em caso de decomposição do corpo mumificado. Isso talvez pudesse justificar o exacerbado naturalismo alcançado pelos escultores egípcios, Principalmente no império antigo. Com o passar do tempo, a exemplo da pintura, a escultura acabou se estilizando.

As estatuetas de barro eram peças concebidas como partes complementares do conjunto de objetos no ritual funerário. Já a estatuária monumental de templos e palácios surgiu a partir da dinastia XVIII, como parte da nova arquitetura imperial, de caráter representativo. Paulatinamente, as formas foram se complicando e passaram do realismo ideal para o amaneiramento completo. Com os reis ptolemaicos, a grande influência da Grécia revelou-se na pureza das formas e no aperfeiçoamento das técnicas.

A princípio, o retrato tridimensional foi privilégio de faraós e sacerdotes. Com o tempo estendeu-se a certos membros da sociedade, como os escribas. Dos retratos reais mais populares merecem menção os dois bustos da rainha Nefertite, que, de acordo com eles, é considerada uma das mulheres mais belas da história universal. Ambos são de autoria de um dos poucos artistas egípcios conhecidos, o escultor Thutmosis, e encontram-se hoje nos museus do Cairo e de Berlim.

Igualmente importantes foram as obras de ourivesaria, cuja maestria e beleza são suficientes para testemunhar a elegância e a ostentação das cortes egípcias. Os materiais mais utilizados eram o ouro, a prata e pedras. As jóias sempre tinham uma função específica (talismãs), a exemplo dos objetos elaborados para os templos e as tumbas. Os ourives também colaboraram na decoração de templos e palácios, revestindo muros com lâminas de ouro e prata lavrados contendo inscrições, dos quais restaram apenas testemunho.

ARTE EGÍPCIA - PINTURA


A pintura egípcia teve seu apogeu durante o império novo, uma das etapas históricas mais brilhantes dessa cultura. Entretanto, é preciso esclarecer que, devido à função religiosa dessa arte, os princípios pictóricos evoluíram muito pouco de um período para outro. Contudo, eles se mantiveram sempre dentro do mesmo naturalismo original. Os temas eram normalmente representações da vida cotidiana e de batalhas, quando não de lendas religiosas ou de motivos de natureza escatológica.

As figuras típicas dos murais egípcios, de perfil mas com os braços e o corpo de frente, são produto da utilização da perspectiva da aparência. Os egípcios não representaram as partes do corpo humano com base na sua posição real, mas sim levando em consideração a posição de onde melhor se observasse cada uma das partes: o nariz e o toucado aparecem de perfil, que é a posição em que eles mais se destacam; os olhos, braços e tronco são mostrados de frente. Essa estética manteve-se até meados do império novo, manifestando-se depois a preferência pela representação frontal.

Um capítulo à parte na arte egípcia é representado pela escrita. Um sistema de mais de 600 símbolos gráficos, denominados hieróglifos, desenvolveu-se a partir do ano3300 a.C. e seu estudo e fixação foi tarefa dos escribas. O suporte dos escritos era um papel fabricado com base na planta do papiro. A escrita e a pintura estavam estreitamente vinculadas por sua função religiosa. As pinturas murais dos hipogeus e as pirâmides eram acompanhadas de textos e fórmulas mágicas dirigidas às divindades e aos mortos.

É curioso observar que a evolução da escrita em hieróglifos mais simples, a chamada escrita hierática, determinou na pintura uma evolução semelhante, traduzida em um processo de abstração. Essas obras menos naturalistas, pela sua correspondência estilística com a escrita, foram chamadas, por sua vez, de Pinturas Hieráticas. Do império antigo conservam-se as famosas pinturas Ocas de Meidun e do império novo merecem menção os murais da tumba da rainha Nefertari, no Vale das Rainhas, em Tebas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

ROMANTISMO - PINTURA

A pintura foi a disciplina mais representativa do romantismo. Foi ela o veículo que consolidaria definitivamente o ideal de uma época.As cores se libertaram e fortaleceram, dando a impressão, às vezes, de serem mais importantes que o próprio conteúdo da obra. A paisagem passou a desempenhar o papel principal, não mais como cenário da composição, mas em estreita relação com os personagens das obras e como seu meio de expressão.

É o que acontece com as tempestades de Turner, cuja força expressiva permitiu ao pintor prescindir, intencionalmente, de toda presença humana; ou das montanhas nebulosas de Friedrich, solitárias e místicas. Na França e na Espanha, o romantismo produziu uma pintura de grande força narrativa e de um ousado cromatismo, ao mesmo tempo dramático e tenebroso. É o caso dos quadros das matanças de Delacroix, ou do Colosso de Goya, que antecipou, de certa forma, a pincelada truncada do impressionismo.

Paralelamente ao romantismo surgiu o realismo social. Este movimento nasceu na França, após as revoltas de 1848 e como resposta à estética novelesca e fictícia do romantismo. A vida dos trabalhadores no campo, nas minas, ou seja, das classes menos privilegiadas, foi por antonomásia o tema dessa pintura, que tinha como finalidade a conscientização da sociedade e que, logicamente, foi recusada pela alta burguesia. Seus representantes máximos foram Courbet, Daumier e Millet.

Um parágrafo à parte merecem nesse período da arte os avanços nos métodos de reprodução de obras pictóricas: a litografia (melhorada) e a xilografia (novidade). Além de serem usados para reproduzir originais de Delacroix, Fuseli ou Gericault, esses métodos também se desenvolveram como disciplinas artísticas. As mais de 4 000 litografias de Daumier fizeram uma caricatura e documentaram a vida social da França, da mesma forma que as refinadas gravuras de Doré ou os personagens de Grandville.

ROMANTISMO - INTRODUÇÃO

O romantismo foi um movimento artístico ocorrido na Europa por volta de 1800, na literatura e filosofia, para depois alcançar as artes plásticas. Diante do racionalismo anterior à revolução, ele propunha a elevação dos sentimentos acima do pensamento. Curiosamente, não se pode falar de uma estética tipicamente romântica, visto que nenhum dos artistas se afastou completamente do academicismo, mas sim de uma homogeneidade conceitual pela temática das obras.

A iconografia romântica caracterizou-se por sua estreita relação com a literatura e a poesia, especialmente com as lendas heróicas medievais e dramas amorosos, assim como com as histórias recolhidas em países exóticos, metaforizando temas políticos ou filosóficos da época e

ressaltando o espírito nacional. Não se pode esquecer que o romantismo revalorizou os conceitos de pátria e república. Papel especial desempenharam a morte heróica na guerra e o suicídio por amor.

A arquitetura e a escultura românticas se caracterizaram por sua linguagem nostálgica e pela pouca originalidade. Quando não se mesclaram estilos históricos obtendo-se obras bem mais ecléticas, reproduziram-se fielmente castelos e igrejas medievais, estilo que foi chamado de neogótico. Na escultura, imitando a linguagem pictórica, produziram-se figuras de uma dramaticidade e energia comparáveis apenas às presentes nas telas de Delacroix, embora também dentro de um forte academicismo.

ROMANTISMO - ESCULTURA

A escultura romântica não brilhou exatamente pela sua originalidade, nem tampouco pela maestria de seus artistas. Talvez se possa pensar nesse período como um momento de calma necessário antes da batalha que depois viriam a travar o impressionismo e as vanguardas modernas. Do ponto de vista funcional, a escultura romântica não se afastou dos monumentos funerários, da estátua eqüestre e da decoração arquitetônica, num estilo indefinido a meio caminho entre o classicismo e o barroco.

A grande novidade temática da escultura romântica foi a representação de animais de terras exóticas em cenas de caça ou de luta encarniçada, no melhor estilo das exuberantes cenas de Rubens. Não se abandonaram os motivos heróicos e as homenagens solenes na forma de estátuas superdimensionadas de reis e militares. Em compensação, tornou-se mais rara a temática religiosa. Os mais destacados escultores desse período foram Rude e Barye, na França, Bartolini, na Itália, e Kiss, na Alemanha.

ROMANTISMO - ARQUITETURA

A arquitetura do romantismo foi definitivamente historicista. No início do século XIX, deu-se o movimento de ressurgimento das formas clássicas, chamado de neoclassicismo; mais tarde, apareceram as manifestações neogóticas, consideradas ideais para igrejas e castelos e, em determinados casos, como na Inglaterra, inclusive para edifícios governamentais. Esse reaparecimento de estilos mais antigos teve relação com a recuperação da identidade nacional.

Em Paris experimentou-se um renascimento do barroco, como aconteceu em Viena. Um caso à parte foi a Alemanha, que, sob a orientação de Luís II da Baviera, experimentou arquiteturas neo-otônicas, neo-românicas e neogóticas, além das neoclássicas já existentes. A Europa estava voltada para a construção de edifícios públicos e, esquecendo-se do fim último da arquitetura, abandonava as classes menos favorecidas em bairros cujas condições eram calamitosas.

Entre os arquitetos mais reconhecidos desse período historicista ou eclético, deve-se mencionar Garnier, responsável pelo teatro da Ópera de Paris; Barry e Puguin, que reconstruíram o Parlamento de Londres; e Waesemann, na Alemanha, responsável pelo distrito neogótico de Berlim. Na Espanha deu-se um renascimento curioso da arte mudéjar na construção de conventos e igrejas, e na Inglaterra surgiu o chamado neo-gótico hindu. Este último, em alguns casos, revelou mais mau gosto do que arte.

MODERNISMO / SIMBOLÍSMO - PINTURA


A pintura modernista misturou as delicadas e elegantes formas do gótico com o simbolismo romântico de dois grupos importantes da Europa do século XIX: os pré-rafaelistas ingleses Millais, Rossetti, Hunt e Brown e os nazarenos alemães Overbeck, Pforr e Cornelius. O resultado foi uma pintura de um erotismo e uma naturalidade surpreendentes. A idealização da mulher manifestou-se em figuras meio ninfas e meio anjos; corpos etéreos e pele translúcida.

A natureza assumiu a forma de bosques aquáticos, com plantas de ramos ondulados e longos, mimetizados com os arabescos dourados e os frisos decorativos. Entre os representantes mais significativos da pintura do movimento art-nouveau destacou-se Gustav Klimt, cuja obra inicialmente produziu grande agitação nas exposições da secessão austríaca. No entanto, seu ousado erotismo transformou-se em pouco tempo no paradigma indiscutível da pintura "modernista".

Deve-se mencionar também o alemão Frans von Stuck, que se aproxima da estética klimtiana, ainda que com temas resgatados das telas do inglês Alma-Tadema, outro importante precursor da pintura "modernista". Suas obras retomaram os temas do classicismo antigo, com uma nova expressividade, à beira do romantismo. No resto da Europa encontramos os espanhóis Casella, Rusiñol e Casa, embora sua obra reflita um forte espírito antiacademicista na direção do impressionismo parisiense.

MODERNISMO / SIMBOLÍSMO - INTRODUÇÃO

O modernismo é uma corrente artística que surgiu na última década do século XIX, como resposta às conseqüências da industrialização, revalorizando a arte e sua forma de realização: manual. O nome deste movimento deve-se à loja que o alemão Samuel Bing abriu em Paris no ano de 1895: Art Nouveau. No resto da Europa difundiram-se diferentes traduções: Modernismo, na Espanha; Jugendstil, na Alemanha; Secessão, na Áustria; e Modern Style, na Inglaterra e Escócia.

Com características próprias em cada um desses países, foram as primeiras exposições internacionais organizadas nas capitais européias que contribuíram para forjar uma certa homogeneidade estilística. A arquitetura foi a disciplina integral à qual se subordinaram as outras artes gráficas e figurativas. Reafirmou-se o aspecto decorativo dos objetos de uso cotidiano, mediante uma linguagem artística repleta de curvas e arabescos, de acentuada influência oriental.

Contrariamente à sua intenção inicial, o modernismo conseguiu a adesão da alta burguesia, que apoiava entusiasticamente essa nova estética de materiais exóticos e formas delicadas. O objetivo dos novos desenhos reduziu-se meramente ao decorativo, e seus temas, como que surgidos de antigas lendas, não tinham nada em comum com as propostas vanguardistas do início do século. O modernismo não teria sido possível sem a subvenção de seus ricos mecenas.

Entre os precursores da arte modernista estava William Morris. Seus desenhos, elaborados com espírito artesanal, se contrapunham à produção industrial. Nos escritórios da empresa criada por ele, a Morris & Co., eram determinadas as formas elegantes e sinuosas, típicas do modernismo, bem como definidos os materiais nobres usados na criação de objetos de uso cotidiano. Sua apresentação na exposição de Bruxelas de 1892 produziu um grande impacto e determinou a difusão desse novo estilo.

MODERNISMO / SIMBOLÍSMO - ESCULTURA

A escultura modernista permaneceu estreitamente ligada à arquitetura e teve, antes de tudo, uma função decorativa. A criação tridimensional foi representada, melhor ainda do que pela escultura, pelos objetos de uso diário, produzidos com materiais nobres, com um desenho que os elevava à categoria de obras de arte. O modernismo implicou uma revalorização do artesão e, por conseguinte, dos produtos feitos à mão, em oposição aos industrializados.

Formaram-se ateliês de artesãos, como a Arts & Crafts, de Londres, na qual se fabricavam móveis caros e raros, ou a Escola de Nancy, onde se produzia o mobiliário do desenhista Gallé e a já então prestigiada cristaleria e joalheria de René Lalique. Em Viena, destacaram-se as criações de baixelas de ouro e prata da Wiener Werkstätte, de Hoffmann, e na Espanha a refinada joalheria dos Masriera. Na América alcançaram sucesso os desenhos em cristal da Comfort Tiffany.

Outra das grandes criações da corrente modernista foi a arte gráfica publicitária, que se iniciou com os cartazes. Coloridos e artísticos, cobriam os muros das cidades, tentando convencer os cidadãos da qualidade de determinados produtos ou da grandeza de certos espetáculos - de exposições a apresentações de teatro e circo. O primeiro grande artista a se dedicar ao desenho de cartazes foi Toulouse-Lautrec, seguido dos mais importantes pintores da época.

Muito em breve seriam criados os escritórios de publicidade, semelhantes às atuais agências. Usava-se um grafismo simples mas elegante, sendo ao mesmo tempo atraente, de acordo com os padrões estéticos da época. O cartaz modernista guardava, no desenho, certas semelhanças com os quadros de Klimt ou com a ornamentação arquitetônica de Gaudí. Entre os cartazistas mais importantes, Casas, na Espanha, Von Stuck, na Alemanha, Auchentaler, em Viena, e Mucha, na França.

MODERNISMO / SIMBOLÍSMO - ARQUITETURA

A arquitetura modernista se caracterizou pela estrita coerência entre as formas sinuosas das fachadas e a ondulante decoração dos interiores. Adotou-se a chamada construção honesta, que permitia vislumbrar vigas e estruturas de ferro combinadas com cristal. Dentro da arquitetura modernista existiram duas tendências: as formas sinuosas e orgânicas, de um lado, e as geométricas e abstratas, precursoras da futura arquitetura racionalista, de outro.

Em Barcelona, o arquiteto Gaudí revolucionou a arquitetura com uma obra totalmente simbolista e natural, constituindo por si só um estilo. Na França e na Bélgica, os elegantes edifícios de ferro, cristal e mosaicos de Guimard e Horta criavam espaços de uma força lúdica irresistível, embora mais prosaicos que os catalães. Os americanos, enquanto isso, inauguravam o século XX com os primeiros arranha-céus do arquiteto Sullivan e seu discípulo Frank Lloyd Wright.

Viena representou quase com exclusividade a corrente mais racionalista do modernismo. Os arquitetos Wagner e Olbrich retiraram suas formas do rigoroso gótico inglês e do inovador e visionário arquiteto escocês Mackintosh. Dessa forma, conseguiram uma construção volumétrica, de formas retangulares, com uma ornamentação bem dosada, embora sem chegar ao extremo de seu contemporâneo Loos, que considerava a decoração uma aberração arquitetônica.

IMPRESSIONISMO - PINTURA


O que mais interessou aos pintores impressionistas foi a captação momentânea da luz na atmosfera e sua influência nas cores. Já não existiam a linha, ou os contornos, nem tampouco a perspectiva, a não ser a que lhes fornecia a disposição da luz. A poucos centímetros da tela, um quadro impressionista é visto como um amontoado de manchas de tinta, ao passo que à distância as cores se organizam opticamente e criam formas e efeitos luminosos.

Os primeiros estudos sobre a incidência da luz nas cores foram realizados pelo pintor Corot, modelo para muitos impressionistas e mestres da escola de Barbizon. Tentando plasmar as cores ao natural, os impressionistas começaram a trabalhar ao ar livre para captarem a luz e as cores exatamente como elas se apresentam na realidade. A temática de seus quadros se aproximava mais das cenas urbanas em parques e praças do que das paisagens, embora cada pintor tivesse seus motivos prediletos.

Reunidos em Argenteuil, Manet, Sisley, Pissarro e Monet fizeram experiências principalmente com a representação da natureza por meio das cores e da luz. Logo chegaram à expressão máxima do pictórico (a cor) diante do linear (o desenho). Como nunca, a luz tornou-se protagonista e atingiu uma solidez ainda maior do que a que se vê nos quadros de Velázquez, nas pinceladas truncadas e soltas de Hals ou no colorido de Giorgione, reinterpretada de modo inteiramente antiacadêmica.

Mais tarde surgiriam os chamados pós-impressionistas, que não formaram nenhum grupo concreto e cujos trabalhos eram bem mais diferenciados: Cézanne e seu estudo dos volumes e formas puras; Seurat, com seu cromatismo científico; Gauguin, cujos estudos sobre a cor precederam os fauvistas; e Van Gogh, que introduziu o valor das cores como força expressiva do artista.

O líder do grupo fauvista foi Matisse, que partiu do estudo dos impressionistas e pós-impressionistas, de quem herdou sua obsessão pela cor.Junto com ele, Vlaminck e Derain, o primeiro totalmente independente e fascinado pela obra de Van Gogh, e o segundo a meio caminho entre os simbolistas e o realismo dos anos 20. O grupo se completava com os pintores Dufy, Marquet, Manguin, Van Dongen e um Braque pré-cubista. Esse movimento chegou ao ápice em 1907.

 


 

IMPRESSIONISMO - INTRODUÇÃO


Recebe o nome de impressionismo a corrente artística que surgiu na França, principalmente na pintura, por volta do ano de 1870. Esse movimento, de cunho antiacademicista, propôs o abandono das técnicas e temas tradicionais, saindo dos ateliês iluminados artificialmente para resgatar ao ar livre a natureza, tal como ela se mostrava aos seus olhos, segundo eles, como uma soma de cores fundidas na atmosfera. Assim, o nome impressionismo não foi casual.

O crítico Louis Leroy, na primeira exposição do grupo do café Guerbois (onde os pintores se reuniam), ao ver a obra de Monet, Impressão, Sol Nascente, começou sarcasticamente a chamar esses artistas de impressionistas. Criticados, recusados e incompreendidos, as exposições de suas obras criavam uma expectativa muito grande nos círculos intelectuais de Paris, que não conseguiam compreender e aceitar seus quadros, nos quais estranhavam o naturalismo acadêmico.

São duas as fontes mais importantes do impressionismo: a fotografia e as gravuras japonesas (ukiyo-e). A primeira alcançou o auge em fins do século XIX e se revelava o método ideal de captação de um determinado momento, o que era uma preocupação principalmente para os impressionistas. As segundas, introduzidas na França com a reabertura dos portos japoneses ao Ocidente, propunham uma temática urbana de acontecimentos cotidianos, realizados em pinturas planas, sem perspectiva.

Os representantes mais importantes do impressionismo foram: Manet, Monet, Renoir, Degas e Gauguin. No restante da Europa isso ocorreu posteriormente. Ao impressionismo seguiram-se vários movimentos, representados por pintores igualmente importantes e com teorias muito pessoais, como o pós-impressionismo (Van Gogh, Cézanne), o simbolismo (Moreau, Redon), e o fauvismo (Matisse, Vlaminck, Derain, entre outros) e o retorno ao princípio, ou seja, à arte primitiva (Gauguin). Todos apostavam na pureza cromática, sem divisões de luz.

A própria escultura deste período também pode ser considerada impressionista, já que, de fato, os escultores tentaram uma nova maneira de plasmar a realidade. É o tempo das esculturas inacabadas de Rodin, inspiradas em Michelangelo, e dos esboços dinâmicos de Carpeaux, com resquícios do rococó. Já não interessava a superfície polida e transparente das ninfas delicadas de Canova. Tratava-se de desnudar o coração da pedra para demonstrar o trabalho do artista, novo personagem da estatuária.

IMPRESSIONISMO - ESCULTURA


A exemplo da pintura, a escultura do fim do século XIX tentou renovar totalmente sua linguagem. Foram três os conceitos básicos dessa nova estatuária: a fusão da luz e das sombras, a ambição de obter estátuas visíveis a partir do maior número possível de ângulos e a obra inacabada, como exemplo ideal do processo criativo do artista. Os temas da escultura impressionista, como de resto da pintura, surgiram do ambiente cotidiano e da literatura clássica em voga na época.

Rodin e Hildebrand foram, em parte, os responsáveis por essa nova estatuária -o primeiro com sua obra e o segundo, com suas teorias. Igualmente importantes foram as contribuições do escultor Carpeaux, que retomou a vivacidade e a opulência do estilo rococó, mas distribuindo com habilidade luzes e sombras. A aceitação de seus esboços pelo público animou Carpeaux a deixar sem polimento a superfície de suas obras, o que foi depois fundamental para as esculturas inacabadas de Rodin.

Rodin considerava O Escravo, que Michelangelo não terminou, a obra em que a ação do escultor melhor se refletia. Por isso achou tão interessantes os esboços de Carpeaux, começando então a exibir obras inacabadas. Outros escultores foram Dalou e Meunier, a quem se deve a revalorização dos temas populares. Operários, camponeses, mulheres realizando atividades domésticas, todos faziam parte do novo álbum de personagens da nova estética.


 

FUTURISMO - PINTURA


  Em linhas gerais, os futuristas tentaram plasmar em suas pinturas a idéia de dinamismo, entendido como a deformação e desmaterialização por que passam os objetos e o espaço quando ocorre a ação.Pode parecer algo muito simples, mas não é. De fato, os futuristas, que tão bem souberam expressar suas teorias nos manifestos, tiveram muito trabalho para as materializar sem cair nas antigas representações artísticas que tanto abominavam.
   Uma de suas propostas foi a divisão da cor. É mais do que sabido que, qualquer objeto em movimento, um automóvel por exemplo, é visto pelo observador como uma sucessão de linhas coloridas fugazes. Esta teoria pode parecer familiar quando se pensa nos esforços que os impressionistas fizeram para captar a luz ou as cores num momento determinado. Mas é exatamente aí que está a diferença na proposição dos futuristas...
... é que os futuristas aspiram à captação de um instante preciso na tela, sem a soma de momentos que, em conjunto, constroem a ação.Além disso, como um objeto em movimento também perde sua forma original, é necessário fragmentar volumes e linhas. Não bastasse isso, os futuristas ousaram ainda mais. Repetiram essas fragmentações até saturar o plano, com o que conseguiram alcançar um de seus maiores objetivos: a simultaneidade.
   Diante das obras futuristas, o espectador, estático, só consegue se deixar envolver por essas telas velozes e movediças, que, mais do que um prazer visual, transmitem a sensação de vertigem dos novos tempos. O pintor Boccioni, um dos maiores expoentes do movimento, fez suas incursões pela escultura, aprofundando a busca do dinamismo, embora se possa afirmar sem dúvida que, nas artes plásticas, o futurismo foi uma arte eminentemente pictórica.

FUTURISMO - INTRODUÇÃO

O futurismo foi um movimento artístico que ocorreu na Itália de 1909 a 1916. De grande repercussão social, seus princípios foram o ponto de partida para a modernização da cultura italiana. Em 20 de fevereiro de 1909, o jornal parisiense Le Figaro publicou o primeiro manifesto futurista, assinado pelo poeta italiano Filippo Tomaso Marinetti. Suas bases eram totalmente revolucionárias, e ele foi o primeiro grito exigindo uma arte contemporânea.

O poeta propunha a destruição de um mundo representado pelo governo, academias de arte e Vaticano, para fazer a sociedade italiana despertar para a nascente modernidade. Seu programa político abordava o divórcio, a distribuição de riquezas e a igualdade entre homem e mulher. Além disso, defendia a guerra como o único meio de mudar um mundo antiquado e decadente e o militarismo, como revalorização do sentido de pátria.

Para conseguir pôr essas idéias em prática, não foi difícil para Marinetti contar com o apoio incondicional dos pintores mais jovens da Itália, do início do século: Balla, Boccioni, Carrà, Russolo e Severini. Eles também, cheios de entusiasmo revolucionário, redigiram seus próprios manifestos, nos quais assentavam as bases do que viria a ser a arte futurista: a máquina como única expressão do dinamismo e a velocidade como o novo sinal dos tempos.

Também se unia a esta nova corrente o arquiteto Sant'Elia, que teorizava sobre uma arquitetura caduca e transitória, que não sobrevivesse ao homem. O verdadeiro desafio para os futuristas foi encontrar um estilo que não tivesse nada em comum com as formas de arte tradicionais. Surgiram assim seus quadros de planos fragmentados e cores expandidas, nos quais as formas se repetiam, amontoando-se umas sobre as outras, para transmitir uma sensação de movimento contínuo.


 

EXPRESSIONIMO - PINTURA

A principal característica da pintura expressionista foi a deformação da realidade sob a óptica dos sentimentos. Já não se procurava imitar o modelo da natureza ou o objeto real. Havia uma realidade ainda mais importante: a da visão subjetiva do artista. Para o grupo Der Brücke (A Ponte), os temas centrais eram as paisagens de policromia exacerbada e o corpo humano sintetizado em poucas linhas.

O que mais se destacaram em suas obras foram a agressividade da cor e a falta de tranqüilidade das formas. Sua preocupação era reformular os temas impressionistas. Os artistas do Die Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul) usaram as teorias musicais para conseguir composições de colorido harmonioso e formas totalmente abstratas. Para os expressionistas vienenses, ao contrário, o tema central era o resgate do feio como novo valor estético.

Com o expressionismo, conceitos como deformação da realidade, expressividade da cor e abstração das formas passaram a ser os novos princípios da arte. A escultura expressionista é escassa, e a arquitetura circunscrita a este movimento é exclusivamente teórica. Contudo, os princípios plásticos enunciados pelo expressionismo marcarão a estética de todas as disciplinas artísticas que vão surgir mais adiante, no século XX.


 

EXPRESSIONISMO - INTRODUÇÃO

O expressionismo foi a primeira vanguarda artística do século XX que utilizou a deformação da realidade para dar forma à visão subjetiva do artista. Seus quadros foram os primeiros nos quais o objeto representado se distancia totalmente do modelo original. O termo expressionismo (com o sentido de retorcer, em alemão) foi cunhado pelo galerista Georg Levin em 1912.

Com esse nome eram designados os grupos das vanguardas européias, como o Die Brücke (A Ponte), composto pelos pintores Emil Nolde, Ernst Kirchner, Karl Schmidt-Rottluff e Max Pechstein. e o Der Blaue Reiter (O Cavaleiro Azul), entre cujos representantes estava Vassili Kandinski, Franz Marc e August Macke e os artistas Oskar Kokoschka e Egon Schiele, na Áustria, e Georges Rouault, na França, para citar alguns.

Sua visão, totalmente pessoal e às vezes agressiva da realidade, se formou mediante uma intensa deformação e abstração das formas e uma acentuação de linhas e contornos. Suas descobertas estilísticas seriam decisivas para os movimentos plásticos, tanto abstratos quanto figurativos, que surgiriam mais adiante no século XX. Uma das descobertas mais inovadoras foi a aplicação das teorias musicais à composição plástica.

Foram três as etapas que levaram o expressionismo ao amadurecimento: o primeiro, o período da arte naïf, em que se vislumbrou a importância da arte como meio de expressão dos sentimentos humanos; o segundo, denominado expressionismo puro, cujo tema principal foi a abstração das formas; e, finalmente, os períodos anteriores e posteriores à Primeira Guerra Mundial, nos quais atuou como implacável crítico da sociedade.


 


 

DADAÍSMO - PINTURA

A pintura dadaísta foi um dos grandes mistérios da história da arte do século XX. Os pintores deste movimento, guiados por uma anarquia instintiva e um forte nihilismo, não hesitaram em anular as formas, técnicas e temas da pintura, tal como tinham sido entendidos até aquele momento. Um exemplo disso eram os quadros dos antimecanismos ou máquinas de nada, nos quais o tema central era totalmente inédito para aqueles tempos.

Representavam artefatos de aparência mais poética do que mecânica, cuja função era totalmente desconhecida. Para dificultar ainda mais sua análise, os títulos escolhidos jamais tinham qualquer relação com o objeto central do quadro. Não é difícil deduzir que, exatamente através desses antitemas, os pintores expressavam sua repulsa em relação à sociedade, que com a mecanização estava causando a destruição do mundo.

Um capítulo à parte merecem as colagens, que logo se transformaram no meio ideal de expressão do sentimento Dadaísta. Tratava-se da reunião de materiais aparentemente escolhidos ao acaso, nos quais sempre se podiam ler textos elaborados com recortes de jornais de diferente feição gráfica. A mistura de todo tipo de imagens extraídas da imprensa da época faz desse tipo de trabalho uma antecipação precoce da idealização dos meios de comunicação de massa, que mais tarde viria a ser a Arte Pop.

DADAÍSMO - INTRODUÇÃO

O dadaísmo surgiu no ano de 1916, por iniciativa de um grupo de artistas que, descrentes de uma sociedade que consideravam responsável pelos estragos da Primeira Guerra Mundial, decidiram romper deliberadamente com todos os valores e princípios estabelecidos por ela anteriormente, inclusive os artísticos. A própria palavra dadá não tem outro significado senão a própria falta de significado, sendo um exemplo da essência desse movimento iconoclasta.

O principal foco de difusão desta nova corrente artística foi o Café Voltaire, fundado na cidade de Zurique pelo poeta Hugo Ball e ao qual se uniram os artistas Hans Arp e Marcel Janco e o poeta romeno Tristan Tzara. Suas atuações provocativas e a publicação de inúmeros manifestos fizeram que o dadaísmo logo ficasse conhecido em toda a Europa, obtendo a adesão de artistas como Marcel Duchamp, ou Francis Picabia.

Não se deve estranhar o fato de artistas plásticos e poetas trabalharem juntos — o dadaísmo propunha a atuação interdisciplinar como única maneira possível de renovar a linguagem criativa. Dessa forma, todos podiam ter vivência de vários campos ao mesmo tempo, trocando técnicas ou combinando-as. Nihilistas, irracionais e, às vezes, subversivos, os dadaístas não romperam somente com as formas da arte, mas também com o conceito da própria arte.

Não são questionados apenas os princípios estéticos, como fizeram expressionistas ou cubistas, mas o próprio núcleo da questão artística.Negando toda possibilidade de autoridade crítica ou acadêmica, consideram válida qualquer expressão humana, inclusive a involuntária, elevando-a à categoria de obra de arte.Efêmera, mas eficaz, a arte dadaísta preparou o terreno para movimentos vanguardistas tão importantes como o surrealismo e a arte pop, entre outros.


 

DADAÍSMO – FOTOGRAFIA E CINEMA

Artistas de seu tempo, os dadaístas foram sem dúvida os primeiros a incorporar o cinema e a fotografia à sua expressão plástica. E fizeram isso de uma maneira totalmente experimental e guiados por uma espontaneidade inata. O resultado desse novo materialismo foi um cinema completamente abstrato e absurdo, por exemplo, o de diretores como Hans Richter e a fotografia experimental de Man Ray e seus seguidores.

Foi exatamente Man Ray o inventor da conhecida técnica do raiograma, que consistia em tirar a fotografia sem a câmara fotográfica, ou seja, colocando o objeto perto de um filme altamente sensível e diante de uma fonte de luz. Apesar de seu caráter totalmente experimental, as obras assim concebidas conseguiram se manter no topo da modernidade tempo suficiente para passar a fazer parte dos anais da história da fotografia e do cinema artísticos.


 

DADAÍSMO - ESCULTURA

A escultura dadaísta nasceu sob a influência de um forte espírito iconoclasta. Uma vez suprimidos todos os valores estéticos adquiridos e conservados até o momento pelas academias, os dadaístas se dedicaram por completo à experimentação, improvisação e desordem. Os ready mades de Marcel Duchamp não pretendiam outra coisa que não dessacralizar os conceitos de arte e artista, expondo objetos do dia-a-dia como esculturas.

Um dos mais escandalosos foi, sem dúvida, o urinol que este artista francês se atreveu a apresentar no Salão dos Independentes, competindo com as obras de outros escultores. Sua intenção foi tão-somente demonstrar até que ponto o critério subjetivo do artista podia transformar qualquer objeto em obra de arte. Com exemplos desse tipo e outros, pode-se afirmar que Marcel Duchamp é sem dúvida o primeiro pai da arte conceitual.

Apareceram também, como na pintura, os primeiros antimecanismos, máquinas construídas com os elementos mais estapafúrdios e com o único objetivo de serem expostas para desconcertar e provocar o público. Os críticos não foram muito condescendentes com essas obras, que não conseguiam compreender nem classificar. Tais manifestações, por mais absurdas e insolentes que possam parecer, começaram a definir a plástica que surgiria nos anos seguintes.

CUBISMO - PINTURA

Nos primeiros anos do cubismo, a pintura se caracterizou pela redução a rígidas formas geométricas de tudo o que fosse representável. Tudo o mais foi deixado de lado, em favor da revalorização dessas formas. Foi assim que se pintaram casas sem portas e sem janelas e pessoas com uma só mão ou apenas um olho.As cores utilizadas eram ascéticos ocres, marrons e verdes, com a função principal de remodelar as formas.

Os cubistas também recolocaram em suas telas temas como perspectiva e luz. Mas nada se distanciou tanto das teorias do renascimento. Suas obras demonstram que os artistas rejeitavam deliberadamente a criação de um ponto matemático a partir do qual o observador pudesse contemplá-las. As figuras se superpõem e se projetam umas sobre as outras. Nem a luz tem uma fonte definida e muda constantemente de direção.

O volume foi cedendo importância à plasticidade. As figuras se tornaram planas e tensas. As cores se perderam em transparências, chegando quase à monocromia, e já não se consegue diferenciar o corpo do espaço que o contém. Em sua segunda fase, o cubismo começa a se interessar pelas diferentes texturas e materiais, produzindo colagens originais, de cores muito vivas. Volume e espaço são apenas insinuados com pequenos e leves traços de sombra.

Corre o ano de 1911, e os cubistas, que são agora um grupo mais que respeitável de artistas, se apresentam no Salon des Indépendants, despertando todo tipo de expectativa. Esse grupo de revolucionários carregados de entusiasmo e idéias novas agitaria não só o panorama artístico parisiense como o do resto do mundo. Definitivamente, já nada voltará a ser igual na história da arte, a partir desse momento significativo.

CUBISMO - INTRODUÇÃO

O cubismo, uma das primeiras correntes artísticas das chamadas vanguardas históricas do século XX, manifesta-se na França entre os anos 1908 e 1910. Os pintores e escultores deste movimento afirmavam que na natureza é possível reduzir todas as coisas a formas geométricas perfeitas, mediante as quais elas podem ser representadas. Essa síntese da realidade é fruto de uma busca dos elementos mais fundamentais e primários das artes plásticas, de suas próprias raízes.

De fato, uma das características principais do cubismo é a revalorização das formas geométricas – triângulos, retângulos e cubos, além, é claro, da proposição da pintura e da escultura como formas de expressão. Quanto ao nome dado a esse novo movimento, ele não partiu dos próprios artistas, mas dos críticos de arte da época, totalmente desconcertados diante desse novo caminho de expressão artística.

Ao visitar as primeiras exposições e convencidos de que se tratava de uma arte experimental que nunca chegariam a entender, começaram a se referir às obras com o nome de cubos ou de raridades cúbicas. Essa nova corrente foi representada por dois grandes pintores e escultores: Pablo Picasso e Georges Braque, embora se possa dizer que foi o primeiro, com sua obra As Senhoritas de Avignon, que iniciou o cubismo propriamente dito.


 


 

CUBISMO - ESCULTURA

No terreno da escultura, o cubismo destaca-se dos movimentos artísticos anteriores porque, diferentemente deles, suas obras são pensadas e construídas como nas colagens, com todo tipo de materiais: madeira, metais, papelão, cordas e outros, todos reunidos com o único fim de se obter uma escultura praticamente experimental e não concebida para a posteridade em mármores eternos e metais sólidos.

Como acontece na pintura, predominam as formas geométricas planas, e o pouco volume é conseguido com sua superposição. Não há preocupação quanto ao ponto de vista do observador, nem quanto à criação de cavidades ou espaços, nem sequer quanto à direção da luz. Às vezes há uma aproximação dos princípios futuristas, na tentativa de plasmar não apenas as diferentes faces espaciais de um objeto, coisa natural na escultura, mas também as temporais.

Um valor adicional da escultura cubista é a fascinação de seus representantes pela arte étnica, principalmente a africana, pela qual se deixam influenciar e da qual extraem aquilo que lhes agrada. Por isso, não é de admirar o fato de muitas de suas obras terem algo desse caráter rústico e sutil da arte africana, embora sempre dentro dos princípios do cubismo: formas geométricas planas e volumes reduzidos à sua expressão mínima.

POP ART CINEMA


As origens do cinema pop podem ser encontradas no cinema pop independente, que surgiu na década de 50 como resposta à estética e aos métodos de filmagem hollywoodianos. Estas vanguardas no campo do cinema romperam com o sistema estabelecido de criação, produção e publicidade de Hollywood, tentando revalorizar os artistas num mercado em que produtores tinham primazia sobre os diretores, mesmo quando só entendiam de finanças.

Underground é a palavra chave para se entender o cinema pop , não em sua tradução literal de subterrâneo ou escondido, mas como totalmente crítico e anticonvencional, qualidades que o definem. As características deste novo cinema eram a ausência total de referência à filmografia clássica, numa tentativa de redefini-lo como uma arte independente da televisão e do teatro. Esse é o caso dos filmes de câmera fixa de Andy Warhol, de mais de oito horas de duração e sem fio narrativo.

Agrupados e patrocinados pela Filmmakers Association, cineastas como os irmãos Mekas, Ron Rice ou Kean Jacobs conseguiram filmar independentemente das leis de distribuição e censura. Quanto à fotografia, ela foi muito utilizada pelos artistas pop porque era o único método que permitia a reprodução de eventos artísticos como happenings e environments. A exposição das fotos era considerada um evento artístico.

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Nota: Figuar I -
Cena de Caça – Els Cavalls, Valltorta, Castellón; Figura II
Caçadores com chapéus planos e saiote
Cinto de lãs letras, Dos Águas, Valência; Figura III - Cavalo c. 15000 a.C. Pintura em caverna – LascauxDordogne

POP ART - ESCULTURA


Na primeira fase da arte pop, a escultura não era muito freqüente e se manifestou mais dentro dos parâmetros introduzidos pelo dadaísmo: objetos fora do contexto, organizados em colagens insólitas. Mais tarde alguns artistas interessaram-se em acentuar seus efeitos, como foi o caso de Oldenburg, com suas representações de alimentos em gesso e seus monumentais objetos de uso cotidiano, ou suas controvertidas e engenhosas esculturas moles.

Não faltaram também as instalações de Beuys do tipo happening, em cujas instalações quase absurdas se podia reconhecer uma crítica aos academicismos modernos, ou as esculturas figurativas do tipo environment, de Segal, da mesma natureza.

Outro artista pop que se dedicou a esta disciplina foi Lichtenstein, mas suas obras se mantiveram dentro de um contexto abstracionista-realista, em muitos casos mais perto das obras de seus colegas britânicos.