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domingo, 26 de junho de 2011

RENASCENÇA - PINTURA


Até o advento do renascimento, só era possível, na pintura, transpor para a tábua ou para a parede duas dimensões: comprimento e largura. Era impossível captar no plano a profundidade, a luz ou o volume. É por esse motivo que a perspectiva, tanto aqui quanto na arquitetura, passa a ser um elemento de fundamental importância. Graças e ela os pintores renascentistas conseguem criar o que até então era inconcebível: espaços reais sobre uma superfície plana.
As figuras, dispostas numa composição estritamente simétrica, a variação de cores frias e quentes e o manejo da luz permitem criar distâncias e volumes que parecem ser copiados da realidade. A reprodução da figura humana, a expressão de suas emoções e o movimento ocupam lugar igualmente preponderante. Os temas a representar continuam sendo de caráter estritamente religioso, mesmo que, agora, com a inclusão de um novo elemento..., a burguesia, que queria ser protagonista da história do cristianismo.
Não é de admirar, portanto, que as pessoas se façam retratar junto com a família numa cena do nascimento de Cristo, ou ajoelhadas ao pé da cruz, ao lado de Maria Madalena e da Virgem Maria. Até mesmo os representantes da Igreja se rendem a esse curioso costume. Muito diferentes no espírito, embora nem por isso menos valiosos, são os resultados obtidos paralelamente nos países do norte.
Os mestres de Flandres, deixando de lado as medições e a geometria e recorrendo à câmara escura, também conseguem criar espaços reais no plano, embora sem a precisão dos italianos. A ênfase é colocada na tinta (são eles os primeiros a utilizar o óleo) e na reprodução do natural de rostos, paisagens, fauna e flora, com um cuidado e uma exatidão assombrosos, o que acabou resultando naquilo a que se deu o nome de Janela para a Realidade.

RENASCENÇA - ESCULTURA

Na escultura renascentista, desempenham um papel decisivo o estudo das proporções antigas e a inclusão da perspectiva geométrica. As figuras, até então relegadas ao plano de meros elementos decorativos da arquitetura, vão adquirindo pouco a pouco total independência. Já desvinculadas da parede, são colocadas em um nicho, para finalmente mostrarem-se livres, apoiadas numa base que permite sua observação de todos os ângulos possíveis.

O estudo das posturas corporais traz como resultado esculturas que se sustentam sobre as próprias pernas, num equilíbrio perfeito, graças à posição do compasso (ambas abertas) ou do contrapposto (uma perna na frente e a outra, ligeiramente para trás). As vestes reduzem-se à expressão mínima, e suas pregas são utilizadas apenas para acentuar o dinamismo, revelando uma figura humana de músculos levemente torneados e de proporções perfeitas.

Outro gênero dentro da escultura que também acaba sendo beneficiado pela aplicação dos conhecimentos da perspectiva é o baixo-relevo (escultura sobre o plano). Empregando uma técnica denominada schiacciato, Donatello posiciona suas figuras a distâncias precisas, de tal maneira que elas parecem vir de um espaço interno para a superfície, proporcionando uma ilusão de distância, algo inédito até então.

Desse modo, ao mesmo tempo que se torna totalmente independente da arquitetura, a escultura adquire importância e tamanho. Reflexo disso são as primeiras estátuas eqüestres que dominam as praças italianas e os grandiosos monumentos funerários que coroam as igrejas. Pela primeira vez na história, sem necessidade de recorrer a desculpas que justificassem sua encomenda e execução, a arte adquire proporções sagradas.

RENASCENÇA - ARQUITETURA

Os arquitetos do renascimento conseguiram, mediante a medição e o estudo de antigos templos e ruínas, assim como pela aplicação da perspectiva, chegar à conclusão de que uma obra arquitetônica completamente diferente da que se vira até então não era nada mais que pura geometria euclidiana. O módulo de construção utilizado era o quadrado, que aplicado ao plano e ao espaço deu às novas edificações proporções totalmente harmônicas.

As ordens gregas de colunas substituíram os intermináveis pilares medievais e se impuseram no levantamento das paredes e na sustentação das abóbadas e cúpulas. São três as ordens mais utilizadas: a dórica, a jônica e a coríntia, originadas do classicismo grego. A aplicação dessas ordens não é arbitrária. Elas representam as tão almejadas proporções humanas: a base é o pé, a coluna, o corpo, e o capitel, a cabeça.

As primeiras igrejas do renascimento mantêm a forma da cruz latina, o que resulta num espaço visivelmente mais longo do que largo. Entretanto, para os teóricos da época, a forma ideal é representada pelo plano centralizado, ou a cruz grega, mais freqüente nas igrejas do renascimento clássico. As obras da arquitetura profana, os palácios particulares ou comunais, também foram construídas com base noquadrado.

Vistos de fora, esses palácios se apresentam como cubos sólidos, de tendência horizontal e com não mais de três andares, articulados tanto externa quanto internamente por colunas e pilares. Um pátio central, quadrangular, tem a função de fazer chegar a luz às janelas internas. A parede externa costuma receber um tratamento rústico, sendo a almofadilha mais leve nos andares superiores

A ordem das colunas varia de um andar para outro e costuma ser a seguinte: no andar térreo, a ordem toscana, uma variante da arquitetura romana, no pavimento principal, a jônica, e no superior, a coríntia. A divisão entre um nível e outro é feita por diferentes molduras e uma cornija que se estende por todo o piso de cada andar, exatamente abaixo das janelas. Têm geralmente forma retangular e são coroadas por uma finalização em arco ou triângulo.

RENASCENÇA - INTRODUÇÃO

Renascimento é o nome que se dá ao período que vai do século XV ao XVI. Fundamentado no conceito de que o homem é a medida de todas as coisas, significou um retorno às formas e proporções da antiguidade greco-romana. Este movimento artístico começou a se manifestar na Itália, mais precisamente em Florença, cidade que a essa altura já tinha se tornado um estado independente e um dos centros comerciais mais importantes do mundo.

Em poucos anos, o renascimento difundiu-se pelas demais cidades italianas (período conhecido como quattrocento), para se estender pouco a pouco, em fins do século XV, ao resto do continente europeu, no chamado cinquecento, ou renascimento clássico. As bases desse movimento eram proporcionadas por uma corrente filosófica reinante, o humanismo, que descartava a escolástica medieval, até então reinante, e propunha o retorno às virtudes da antiguidade.

Platão, Aristóteles, Virgílio, Sêneca e outros autores greco-romanos começam a ser traduzidos e rapidamente difundidos. Desse modo, o espírito da antiga filosofia clássica não leva muito tempo para inundar as cortes da nova aristocracia burguesa. O cavalheiro renascentista deve agora ser versado em todas as disciplinas artísticas e científicas, como recomenda um dos livros fundamentais da época, O Cortesão, de Baldassare Castiglione.

Imbuídas desse espírito, as famílias abastadas não hesitaram em atrair para seu mundo artistas de grande renome, aos quais deram seu apoio, tornando-se, afinal, seus mecenas. Músicos, poetas, filósofos, escultores, pintores, ourives e arquitetos saíram do anonimato imposto pelo período medieval e viram crescer seu nome e sua fama, juntamente com a de seus clientes. No norte da Europa, o pensamento humanista já tinha dado seus primeiros passos significativos.

Foi graças ao reformador Lutero e às universidades, por intermédio do estudo das ciências exatas e da filosofia, que se difundiram as idéias de seus pares italianos. Por volta do fim do século XV, chegava da Espanha a notícia do descobrimento de um novo continente, a América, fato que mudaria a fisionomia do mundo para sempre. O homem se distanciava assim, de modo definitivo, do período medieval para decididamente ingressar na modernidade.

terça-feira, 21 de junho de 2011

ARTE DA OCEANIA - INTRODUÇÃO

A arte da Oceania constitui um conglomerado de expressões artísticas de grande diversidade. Sua inclusão na história da arte é bastante recente, data deste século, quando fauvistas e expressionistas se maravilharam diante da liberdade criativa que expressavam as primeiras peças chegadas ao Velho Continente, vindas das ilhas paradisíacas dos mares do sul. Alguns, como Gauguin, não titubearam em se mudar para lá por algum tempo, em busca de novas motivações temáticas e técnicas.

São quatro as etnias principais encontradas no continente da Oceania, vindas provavelmente da Índia e Indonésia: os australianos, nos desertos do continente, os papuas, na ilha da Nova Guiné, os melanésios, no arquipélago da Melanésia, e os polinésios, na Nova Zelândia (os maoris) e ilha de Páscoa. Embora todos tenham origem asiática, cada um desenvolveu diferentes técnicas e disciplinas artísticas submetidas em parte aos condicionamentos geográficos, climáticos e materiais de cada região.

Assim, embora no caso dos arquipélagos da Polinésia e Melanésia os materiais utilizados sejam variados - fibras vegetais, ossos, corais, penas de pássaros, madeira e conchinhas -, o mesmo já não ocorre com os aborígines australianos, limitados pela escassez do deserto. Também é possível detectar diferenças estilísticas consideráveis, inclusive entre os povos mais próximos: os australianos se preocupam com o simbolismo religioso, os papuas acentuam a expressividade, e os polinésios, menos conservadores, buscam a novidade.

ARTE DA OCEANIA - ESCULTURA

A escultura apresenta forma, técnica e suportes diversos que possibilitam uma diferenciação de estilos entre os povos da Oceania, embora evidenciando um espírito comum a todos, em termos de expressividade e falta de condicionamento de seus artistas ao figurativismo. Os totens foram as representações mais freqüentes da estatuária oceânica. Na Melanésia chegaram perto da representação naturalista, enquanto os micronésios moldaram estatuetas de uma pureza de formas equivalente às esculturas cubistas.

Na Polinésia, proliferaram as esculturas de rochas vulcânicas, representadas por cabeças cúbicas ou antropomórficas. As mais famosas são as da ilha de Páscoa, que deram origem a todo tipo de teorias, embora já se tenha confirmado que elas não pertencem a uma cultura milenar, mas sim ao século XV. Não menos interessantes foram as talhas totêmicas de madeira, muitas das quais apresentam o rosto superdimensionado em relação ao corpo e coberto de tatuagens semelhantes às que os homens tinham normalmente por todo o corpo.

ARTE DA OCEANIA - MÁSCARAS

As máscaras tiveram uma função exclusivamente religiosa na vida de todos os povos da Oceania. A exemplo do restante das produções artísticas, a diversidade formal e estilística era determinada pelos materiais de cada região e seus rituais religiosos, assim como pelo contato com outros povos das imediações. Os papuas da Nova Guiné teciam com vime as chamadas máscaras-cascos, utilizadas nos rituais de guerra. Nas de iniciação, ao contrário, combinavam madeira, conchinhas, pêlos de animal e cestaria.

Os desenhos variavam entre a esquematização e a deformação monstruosa com algum fim específico. As máscaras funerárias eram geralmente feitas com crânios humanos e fibras vegetais trançadas à guisa de cabelo. Restaram muito poucos exemplares delas porque eram queimadas ao final da cerimônia. As mais originais são, sem dúvida, as dos nativos da Nova Irlanda: muito coloridas, os artistas jamais repetiam um desenho, e somente as mais bonitas se salvavam da destruição.

CHINESA E JAPONESA - INTRODUÇÃO


   A arte do Extremo Oriente, rica e variada em suas manifestações, revela, na China e no Japão, estreito relacionamento com a religião, sendo ao mesmo tempo eco das numerosas dinastias chinesas e dos guardiães da cultura (bonzos) japoneses. O vínculo permanente entre ambos os países determinou a influência do primeiro sobre o segundo, desde os séculos V e VI até o XIX, em todas as disciplinas artísticas, embora com o tempo os artistas japoneses tenham forjado sua imagem própria, naturalista e distanciada do simbolismo chinês.
   Um dos fatores que determinaram essa estreita relação cultural foi a religião, mais precisamente o budismo. Os chineses, a princípio taoístas e confucionistas, começaram a absorver as crenças budistas, depois da expansão do império gupta (indiano) no século IV, sendo definitiva a instauração dessa religião durante a dinastia T'ang (século VI). O Japão recebeu o budismo das mãos dos chineses durante o período Nara (645-784). Difundiram-se assim os primeiros templos chineses, os pagodes, inspirados nos stupas hindus.
   A escultura chinesa também adotou as ousadas e elegantes formas da Índia, que transpôs para o Japão nas estátuas colossais de Buda. A cerâmica e a porcelana ocorreram com igual profusão em ambas as culturas, embora os motivos tenham nascido da iconografia chinesa. Os melhores expoentes pertencem às dinastias Ming e Ts'ing. A pintura de paisagens atingiu o auge na China a partir do século XII, mas então o Japão desenvolveu um estilo próprio, de costumes e narrativo, carente do lirismo e da intelectualidade dos chineses.


CHINESA E JAPONESA - ARQUITETURA



   Tanto a arquitetura chinesa quanto a japonesa tiveram e continuam tendo um caráter eminentemente funcional, não apenas no que se refere à habitabilidade, mas também ao conceito de integração ao cosmo ou harmonização com a natureza. Para os chineses, a arquitetura deveria ser uma réplica do universo. As formas quadradas, que representam a terra, e as arredondadas, que simbolizam o céu, combinam-se de tal maneira que tanto templos quanto pagodes exibem aparência semelhante em atenção a essas normas.
   No geral, as construções chinesas que mais receberam atenção foram os templos, localizados sobre um terraço com orientação específica, tendo em vista as estações do ano. O exemplo mais interessante é o da Cidade Proibida, construída para o imperador no início do século XV. Ali se pode observar a disposição do templo e dos diferentes palácios, com um imenso jardim central, que se estende por pequenos pátios internos em cada um dos diferentes edifícios.

Pagode de Toshogu - Construído em 1650 e re-
construído em 1818 após um incêndio. Os cinco
níveis representam em ordem crescente: água,
terra, fogo, vento, e no andar mais alto, céu.
   Os telhados típicos de terracota, com suas pontas para cima, além de serem uma realização complexa, simbolizam na China a união entre o celestial e o terrestre. No Japão, persistiu-se na tradição arquitetônica chinesa para os templos budistas, o que não ocorreu com a arquitetura profana. Uma das construções mais típicas é o rikyu, criado por Kobori Ensnu, para a realização da cerimônia do chá. Trata-se de uma vivenda onde o volume e a simplicidade de formas são os personagens principais.
   Os materiais utilizados são os que o entorno natural oferece, no geral madeira e argila, e em algum casos também cobre e junco, principalmente nos telhados. Com o tempo, os rikyu passaram a servir de modelopara habitações particulares pela capacidade de transformação do espaço que suas leves divisórias corrediças ofereciam. Construído em meio a um jardim de plantas perenes, pedras e água, que convidam à meditação, o rikyu continua sendo hoje em dia uma das construções de maior influência na arquitetura contemporânea ocidental.



ARTE CHINESA E JAPONESA - ESCULTURA


   As primeiras esculturas chinesas eram figuras zoomórficas monumentais da época da dinastia Han, tanto em pedra como em bronze. Sob o governo da dinastia T'ang proliferaram as figuras em madeira pintada e folheadas a ouro, típicas da plástica indiana. Pode-se dizer que esses modelos se conservaram ao longo de toda a história da arte chinesa quase sem variações estilísticas, com exceção das famosas estátuas monumentais do príncipe Buda, pertencentes à dinastia Ming (século XIV).
   Os escultores japoneses adotaram os modelos búdicos austeros da dinastia chinesa T'ang, combinando-os com os preceitos históricos do xintoísmo. Não satisfeitos com a idealização chinesa, tentaram dotar sua estatuária de grande expressividade, o que os levou a colorir rostos e intensificar as feições. Esse expressionismo foi transferido depois para as máscaras de teatro do século XV. Ousados e inconformados, os artistas japoneses não temeram cair num certo maneirismo próximo do grotesco.
   Os trabalhos em jade, bronze, cerâmica e porcelana de caráter suntuoso, nos quais tanto os chineses quanto os japoneses demonstraram um refinamento singular e uma grande exigência de qualidade, obscureceram a escultura. As jóias e os objetos decorativos em jade, pedra extremamente difícil de se esculpir, e os espelhos decorados eram muito cobiçados pelos aristocráticos mecenas japoneses. A porcelana faz parte da tradição: a mais representativa continua sendo a azul cobalto e branca (Arte Ming).

ARTE CHINESA E JAPONESA - PINTURA

A extensa história da pintura chinesa começou com um quadro sobre seda encontrado recentemente e que pertenceu à dinastia Shou (206 a.C.). A ele seguem-se os afrescos dos tempos da dinastia Han e mais tarde os da T'ang, muito bem-conservados e de uma elegância e refinamento característicos das cortes imperiais. Os motivos eram tanto religiosos quanto profanos. Existia o pequeno formato de álbuns, combinando as ilustrações com letras desenhadas. No século XI aparecem os primeiros quadros de paisagem.

O paisagismo foi considerado na China o gênero pictórico mais relevante e atingiu o apogeu durante a dinastia Song (IX-XIII). As paisagens ostentavam formas puras e simbólicas, as composições eram em geral assimétricas e obtinha-se uma ilusão de perspectiva sem paralelo na pintura universal. A partir de então, a pintura chinesa se limitou à imitação dos modelos antigos, e surgiram a pintura sobre seda e as gravuras, que tão imitadas seriam na Europa rococó (Chinoiserie).

A pintura japonesa, no essencial, não se afastou do modelo chinês. A princípio também se produziu grande quantidade de afrescos, que decoravam as paredes dos templos. De caráter naturalista, eram semelhantes às primeiras pinturas budistas dos pagodes chineses. Já em plena Idade Média, os pintores japoneses abandonaram definitivamente os temas religiosos e optaram por ilustrar o refinamento e os luxos da corte. Adquiriu então importância a técnica da aquarela sobre papel ou seda, sempre segundo cânones estéticos chineses.

A partir do século XIV, a pintura sobre seda se transformou no gênero mais valorizado, e manifestou-se uma renovada religiosidade nos temas. Também foi o apogeu dos gêneros paisagista e de costumes, com os conhecidos quadros da cerimônia do chá. O grande ressurgimento da pintura não chegou senão no século XVIII, com os quadros de costumes conhecidos como ukiyo e obras de Utamaro e Hokusai, que tanta influência exerceram sobre a pintura dos séculos XIX e XX, principalmente a dos impressionistas e modernistas.

INDIANA E KHMERIANA - INTRODUÇÃO

Deve-se entender como arte indiana aquela que se manifestou não apenas na Índia, mas também na Caxemira, Ceilão, Nepal, Tibete e Indonésia. O modelo, entretanto, foi forjado no país que lhe dá o nome e difundiu-se a partir do reino vizinho, o Khmer, pelos demais. As origens da arte indiana remontam às invasões dos arianos, no século VII a.C., que depois de devastar a civilização do vale do Indo impuseram sua língua, o sânscrito, e seus escritos religiosos, Os Vedas. Com a dinastia dos Mauryas começou um período de esplendor cultural.

O budismo, apesar de posterior ao bramanismo e contemporâneo do jainismo, estabeleceu os princípios da arte indiana ao longo de toda a história, desde seu surgimento. A necessidade de difusão desse movimento religioso levou à adoção de determinados parâmetros de representação, que depois foram estendidos às outras religiões. A arte indiana também recebeu influência persa, principalmente nas cortes, sob o reinado de Asoka (274-237 a.C.). No século I d.C. surgiram as três escolas mais importantes da Índia.

A de Gandhara e a de Mathura, no norte; e a de Wengi, no sul. A primeira foi a mais importante, na medida em que, influenciada pela arte grega, criou a chamada arte grecobúdica e foi também responsável pela primeira representação figurativa do príncipe Buda, sentado e com auréola, até então simbolizado pelo vazio. O chamado período clássico começou com os reis guptas, que revitalizaram notavelmente a pintura e a escultura e renovaram as formas arquitetônicas, retomando a tradição indiana, deixando de lado o budismo.

A arte indiana começou a se expandir a partir da Idade Média e encontrou seu imitador mais respeitado no vizinho reino do Khmer, no Camboja. Os artistas desse reino apostaram, entretanto, em representações mais rígidas, de modo geral estritamente simétricas e despojadas do sensualismo e erotismo do modelo. Especial relevância tiveram os templos piramidais, que se difundiram de lá para o resto da Ásia, e os relevos, de superfícies menos carregadas, aparentemente devido à falta de conhecimentos técnicos de seus escultores.

INDIANA E KHMERIANA - ARQUITETURA

São três as construções básicas da arquitetura indiana que podem ser trasladadas de forma praticamente idêntica para o vizinho reino do Khmer: o stupa ou templo, o caitya ou santuário e o vihara ou mosteiro. O stupa teve origem como monumento funerário de pedra, cuja planta era semi-esférica, com cúpula, mirante e balaustrada. Com o budismo, foi evoluindo como representação arquitetônica do cosmo. O acesso a ele era feito por meio de um arco, ou porta, ricamente adornado com esculturas.

Quando o hinduísmo recuperou importância, o stupa foi substituído pelos templos de planta retangular. Em plena Idade Média, apareceriam os templos piramidais denominados vimana, sikhara e gopura, de decoração exuberante e pomposa, como que esculpidos numa só peça. Eles constituíram a tipologia mais difundida no continente asiático. Os santuários e os mosteiros eram cavados nas rochas das montanhas, e as fachadas, adornadas com relevos e esculturas. O acesso se fazia por uma arcada gigante.

INDIANA E KHMERIANA - ESCULTURA

A escultura indiana teve, nas suas origens, um caráter decididamente naturalista. As figuras talhadas na pedra pareciam se reproduzir infinitamente para cobrir completamente - num descontrolado horror ao vazio - as paredes internas e externas do templo com figuras humanas e de animais, que, além de decorar, cumpriam a função de ensinar aos iniciados os princípios de Buda.Apesar de inteiramente figurativa, a arte budista dos primeiros tempos evitou representar o príncipe Iluminado.

Durante o período clássico (320-570 d.C.) a escultura indiana começou a adotar elementos fantásticos ao mesmo tempo que ganhou em monumentalidade. Essa tendência se manteve por vários séculos. O melhor exemplo disso é o relevo A Descida do Ganges (século I d.C.). No século XI apareceriam as primeiras imagens do príncipe santo nas oficinas da escola de Gandhara sob a influência grega. Os relevos com cenas eróticas extremamente explícitas, típicas da decoração dos stupas, surgiram a partir da indianização do budismo.

Isso se deveu ao fato de que sob a dinastia Mahayana, uma das ramificações religiosas indianas do budismo, o tantrismo, interpretou o ato sexual como a aproximação do homem do divino. A influência da estatuária indiana deixou sua marca no reino vizinho -- o Khmer, no Camboja. As formas búdicas e indianas foram adotadas em representações mais esquemáticas e rígidas, que evitavam toda referência ao erotismo, com uma qualidade artística visivelmente inferior, tanto nas estátuas quanto nos relevos.

INDIANA E KHMERIANA - PINTURA

A pintura indiana complementou a escultura na decoração de templos e palácios e serviu como veículo de propagação da religião e da história a partir da dinastia Vakataka (século V d.C.), que manteve os princípios estilísticos da dinastia Gupta, anterior a ela: porte colossal, extravagância e colorido. A técnica utilizada era a do afresco combinado com a têmpera, ou seja, pintava-se o desenho básico com a parede úmida, retocando-a depois de seca a superfície. Essa técnica deu origem a graves problemas no que diz respeito à conservação das obras.

No geral, as representações tendiam para o naturalismo, ainda que fossem influenciadas por uma estética sensual e idealista. Os temas preponderantes eram as cenas da vida do príncipe Buda (o Iluminado), cuja imagem apareceu pela primeira vez nas obras da escola de Gandhara. Antes, fazia-se alusão a ele através de algum símbolo ou do vazio, que era a representação mais completa de seu estado de pureza e santidade. A época do esplendor desse tipo de afresco coincidiu com o período de transição (séculos V a.C. - I a.C.).

No caso dos afrescos das famosas cavernas de Ajanta, alguns datam do século II d.C., enquanto outros, mais novos, são do século V, época em que esse tipo de pintura começa a se difundir por toda a Ásia. No início do século X, a prática do afresco cedeu lugar à miniatura, consagrada na Idade Média, tanto no Oriente quanto no Ocidente. Como a pintura era feita sobre folhas de plantas regionais dessecadas e em rolos de papel, faltavam-lhes o colorido e a vivacidade dos afrescos. Essa carência foi suprida com a influência posterior da pintura persa.

INCA - INTRODUÇÃO

As origens do povo inca remontam às civilizações anteriores aos nazcas e tihuanacos. As crônicas do império narram a história da família Ayar, que emigrou para Cuzco vinda do norte, cujo último sobrevivente alcançou a condição de deus. De fato, sabe-se com segurança que esse império chegou a abranger mais de 900 000 km2 na costa do Oceano Pacífico e que seu primeiro imperador-chefe, Manco Capac, criou, por volta do século XV, o sistema de organização social e estatal mais avançado da América pré-colombiana.

Essa organização do estado, aliada ao estabelecimento de uma religião e uma língua oficiais, permitiu a convivência pacífica de uma grande diversidade de etnias submetidas a um governo central, que por sua vez delegou o poder às famílias mais importantes de cada aldeia. Como em qualquer outro império do Ocidente, utilizaram a arte como expressão máxima da difusão de seu poderio. A função religiosa cedeu lugar à representativa e utilitária, com obras mais próximas da engenharia do que das disciplinas artísticas.

Os testemunhos mais importantes dessa cultura encontram-se na arquitetura monolítica e despojada de ornamentos, na qual demonstraram tanto uma técnica impecável quanto uma grande frieza expressiva. Atribuíram também grande importância à indústria metalúrgica, principalmente na fabricação de armas, ao artesanato têxtil e à cerâmica. Nessa última, dedicaram-se às peças pequenas e às estatuetas antropomórficas, num estilo tão ascético quanto o da arquitetura.

INCA - CERÂMICA

A cerâmica inca revelou uma característica estrita de funcionalidade e desenho, baseada na fusão com obras de civilizações anteriores, como os nazcas e chimus. Limitados por essa esquematização, os ceramistas tentaram, entretanto, imprimir um caráter individual a cada peça, por meio do uso de cores chamativas e bordas geométricas cada vez mais complexas. As formas básicas eram o urpu, espécie de cântaro; a raqui, ou jarro; as vasilhas de vários pés; e os puynos, utensílios-esculturas de grandes dimensões.

Os incas modelaram também estatuetas antropomórficas e keros, vasilhas de madeira decoradas com cenas ou figuras de animais. Os motivos são na maioria discretos e puristas. Evitou-se o exagero e a opulência, bem como o irregular ou assimétrico. Embora certamente dispusessem de grande variedade de cores e até jogassem com as gamas mais fortes, utilizaram, em contraposição, fundos neutros com predominância dos tons terra e ocre. Isso se refletiu também nas estampas dos tecidos.

INCA - OURIVESARIA

A ourivesaria inca teve um caráter funcional e ornamental. Lâminas de ouro combinadas com outros metais eram modeladas, e com elas, segundo as crônicas, além da moldagem de estatuetas e jóias, forrava-se o interior de templos e palácios. A preferência era dada aos desenhos geométricos, e em alguns casos, como no das lâminas para a decoração de interiores, as cenas eram repetidas como numa estamparia. As estatuetas de metal eram de um figurativismo muito estilizado, sendo a cabeça mais valorizada que o restante.

Olhos, nariz e boca eram superdimensionados. A superfície recebia um alto grau de acabamento e polimento, reflexo de uma técnica muito avançada. Um dos metais mais apreciados para os objetos suntuosos era a prata. A semelhança das peças incas com as dos chimus não é coincidência, já que era normal levar artistas desse povo para realizar trabalhos para o imperador, ou para a função de mestres dos artistas locais. As famosas facas de sacrifício estão entre as peças mais apreciadas da ourivesaria chimu.

INCA - ARQUITETURA


O aspecto mais notável da arquitetura inca é a espantosa destreza a que esse povo chegou no trabalho com a pedra. Por isso é possível encontrar três tipos de construção estreitamente relacionados com os gêneros arquitetônicos. As obras civis de menor importância, as casas do povo e os depósitos de alimentos eram construídos com pedras irregulares; as fortalezas e torres, com pedras colossais; e os templos, palácios e edifícios do governo, com paredes de pedras geométricas regulares, polidas e encaixadas uma na outra, sem argamassa.

Na capital do império, Cuzco, encontravam-se as duas edificações mais significativas: o Cori-cancha, templo do Sol, e o Sacsahuamán, o local onde se vivenciava a divindade. A partir deles traçou-se o resto da cidade, pois eles estavam em locais estratégicos, a exemplo das fortalezas, que serviam de proteção. Os palácios e casas dos nobres em geral tinham uma planta quadrada, e a das construções religiosas era circular. Os incas jamais construíram pirâmides, e as encontradas em seu habitat são anteriores a essa civilização.

As ruínas de Machu Picchu continuam sendo um enigma para arqueólogos e historiadores. Descobertas em 1911, acredita-se que os espanhóis desconheciam sua localização. A construção é muito semelhante à dos incas, mas anterior a eles, que talvez por isso tenham mantido o local em segredo como templos de virgens do Sol, fato que se deduz pelos cadáveres femininos encontrados nas escavações. Seu aspecto mais relevante é a fusão completa entre as formas arquitetônicas e as orográficas da montanha.

MAIA E ASTECA - INTRODUÇÃO

As civilizações mais avançadas da América Central foram a maia e a asteca. Os maias estabeleceram-se ao norte da península de Yucatán e construíram várias cidades-santuários, enquanto os astecas se estabeleceram nas ilhotas do lago de Texcoco, onde edificaram a capital de seu império, México-Tenochtitlán. O império maia teve uma organização estatal e social bem-definida, nas quais se diferenciavam classes sociais e profissões. Foi essa mesma organização que os beligerantes astecas adaptaram ao chegar ao vale do México.

Os mais desenvolvidos cientificamente e intelectualmente foram os maias: possuíam um sistema de escrita hieroglífica e atingiram grandes avanços na astronomia e na matemática. Seu calendário de 365 dias revelou-se mais exato que o utilizado então na Europa. Além disso, já conheciam o zero. Parte de seus conhecimentos foi absorvida pelos toltecas, que por sua vez os transmitiram para o resto das culturas do vale do México e para os astecas, que conseguiram vencer as cidades da Tríplice Aliança e estabeleceram assim seu império.

Ambos os povos deixaram o testemunho de sua grandeza em obras arquitetônicas colossais, representadas por templos e palácios em terraços piramidais, bem como em relevos e esculturas decorativos e suas pinturas e objetos suntuosos. Os próprios conquistadores espanhóis se deram conta das maravilhosas obras de ourivesaria de prata, ouro e pedras preciosas dos astecas, utilizadas para decorar palácios e templos, e das quais existem exemplos não apenas nos museus do México, mas também nos de toda a Europa.

MAIA E ASTECA - ARQUITETURA

Os templos e palácios das civilizações maia e asteca refletem os conhecimentos técnicos de seus construtores e artesãos. Os templos maias, principalmente os do período clássico, denotam a influência dos toltecas. Os templos astecas tinham bases quase quadrangulares que, superpostas, davam forma a pirâmides escalonadas, coroadas por uma plataforma, com a correspondente pedra de sacrifícios. A decoração, com figuras de deidades antropomórficas e animais simbólicos, completava o quadro.

Os arquitetos maias, por sua vez, implementaram certos elementos novos que, junto com um avanço tecnológico, implicaram uma diferenciação estilística: construíram seus tetos com as chamadas abóbadas falsas ou salientes, formadas pela superposição de silhares de pedra. Quanto à decoração, utilizaram o estuque de cal para fazer molduras entre tetos e paredes, que cobriam com baixos-relevos, como no templo de bambu, em Chiapas, de acentuada extravagância.

As residências palacianas maias, como o palácio de Uxmal, possuíam galerias dispostas em forma de quadrado numa plataforma. Entrava-se no palácio por uma escadaria colossal situada na frente das aberturas da galeria central. Há poucos detalhes dos palácios astecas, já que eles foram praticamente destruídos. Sabe-se, pelas crônicas e pelo estudo de algumas ruínas, que o palácio de Montezuma, o soberano asteca, tinha base retangular, com pátios abertos no seu interior e duas construções.

A cidade de Tecnochtitlán, segundo as crônicas dos conquistadores, foi construída numa grande ilhota, no meio do lago. Para se comunicar com terra firme, os astecas construíram um sistema de vias aquáticas e terrestres. Também fizeram aquedutos, para dispor de água potável. Os maias raramente moravam em suas cidades-santuários, preferindo o campo. Em tempos mais recentes, no período clássico, influenciados pelos imigrantes toltecas, começaram a construir edifícios civis e governamentais e o indispensável estádio de jogo de bola.

MAIA E ASTECA - ESCULTURA

Para os maias, a estatuária deveria ser imagem e semelhança da realidade. Em suas esculturas é possível identificar as características físicas do povo, e em muitos casos existiu até um afã de individualização dos rostos ou de sentimentos, embora persistindo a esquematização. Ao contrário dos astecas, as formas maias são mais suaves e arredondadas e mais estilizadas. A escultura colossal é muito comum como complemento de templos e palácios, sobretudo a figura do Chac Mool, ou mensageiro sentado.

São significativos os baixos-relevos dos templos, nos quais os artistas maias combinaram figuras naturalistas com fundos geométricos acompanhados de textos em hieróglifos, não tão abstratos como os egípcios, mas igualmente informativos, do estilo das gravações de estelas comemorativas. Não menos perfeitas foram as gravuras sobre madeira das portas e seus respectivos dintéis. As figuras modeladas em estuque para a decoração de interiores valeram-lhes o qualificativo de primeiros barrocos da América Central.

A estatuária asteca era de um simbolismo profundo e de uma linguagem tendente à abstração, que negava todo naturalismo. Sua função era eminentemente religiosa, motivo por que as figuras representadas eram normalmente deuses acompanhados de seus atributos. Os materiais mais utilizados eram a pedra - andesita e pórfido - e a terracota. O deus mais importante era Quetzalcoatl, representado como homem ou serpente emplumada, já conhecido pelos antecessores dos astecas, os toltecas.

MAIA E ASTECA - PINTURA, MOSAICO E CERÂMICA

No ano de 1946 foi descoberta Bonampak, uma construção de três salas, ou câmaras, cobertas de pinturas murais coloridas. Essas pinturas chegaram quase intactas até o século XX, não só pelo fato de terem permanecido longe da vista dos espanhóis, mas também por terem ficado protegidas por uma fina camada de calcário, depositada naturalmente sobre sua superfície. Longe de toda abstração simbólica, esses murais apresentam-se impregnados de figuras representativas de um determinado momento histórico.

Cada parede representa uma cena, narrada com riqueza de detalhes. É surpreendente o contraste deliberado de cores, bem como sua grande variedade: as preferidas eram o vermelho e suas diferentes tonalidades, o amarelo, o azul e o verde. A perspectiva é obtida pelas superposições e escorços das figuras. Os rostos possuem traços individualizados. O conjunto apresenta os contornos acentuados. A pintura asteca, ao contrário, manteve-se como complemento de relevos e teve um caráter simbólico.

A ausência de um sistema preestabelecido de escrita, como a dos maias, transmitiu tanto aos desenhos como às cores da pintura asteca uma simbologia comparável à dos hieróglifos egípcios, e influiu na almejada abstração. Sabe-se que, a partir da conquista espanhola, os astecas passaram a produzir pinturas de gosto europeu para os conquistadores, e foram de fato excelentes copistas. Conservam-se também manuscritos e cópias de livros com iluminuras, encomendados pelas cortes européias.

ARTE AFRICANA - INTRUDUÇÃO


Máscara do século XVI, Nigéria, Edo,
Corte de Benin, marfim,
Metropolitan Museum of Art

  Existem muitos preconceitos com relação à arte africana e à África em geral. A denominação genérica de africano engloba maior quantidade de raças e culturas do que a de europeu, já que no continente africano convivem dez mil línguas, distribuídas entre quatro famílias, que são as principais. Daí ser particularmente difícil encontrar os traços artísticos comuns, embora, a exemplo da Europa, se possa falar de um certo aspecto identificador que os diferencia dos povos de outros continentes.
   O fato de os primeiros colonizadores terem subestimado essas culturas e considerado suas obras meras curiosidades exóticas, provocou um saque sem sentido na herança cultural desse continente. Recentemente, no século XX, foi possível, graças à antropologia de campo e aos especialistas em arte africana, organizar as coleções dos museus europeus. Mas o dano já estava feito. Muitos objetos ficaram sem classificação, não se conhecendo assim seu lugar de origem ou simplesmente ignorando-se sua função.
   E isso é muito importante para a análise da obra. A arte africana é eminentemente funcional. Mais ainda, não pode ser entendida senão com base no estudo da comunidade que a produziu e de suas crenças religiosas. Basicamente os povos africanos eram animistas, prestavam culto ao espírito de seus antepassados. Outros chegaram a criar verdadeiros panteões de deuses, existindo também os povos monoteístas. Some-se a isso a influência dos primeiros colonizadores portugueses, que cristianizaram várias regiões.
   O auge da arte africana na Europa surgiu com as primeiras vanguardas, especificamente os fauvistas e os expressionistas. Estes, além de reconhecer os valores artísticos das peças africanas, tentaram imitá-las, embora sempre sob a ótica de suas próprias interpretações, algo que colaborou em muitos casos, para a distorção do verdadeiro sentido das obras. Entre as peças mais valorizadas atualmente estão, apenas para citar algumas, as esculturas de arte das culturas fon, fang, ioruba e bini, e as de Luba.

ARTE AFRICANA - ARQUITETURA

A arquitetura africana teve um caráter utilitário, em vez de comunitário, e salvo raras exceções nunca foi empregada, como no resto das civilizações, como representação de poder. Comum a todos os povos foi a utilização de materiais pertencentes à sua região geográfica e o uso intencional e comedido dos materiais em equilíbrio com o meio ambiente. Independentemente de sua hierarquia, todos possuíam o mesmo tipo de casa, não como expressão de igualdade, mas de pertinência ao mesmo grupo.

Os materiais utilizados variavam, então, segundo a região, mas normalmente eram semelhantes: desde o barro até fibras secas tecidas, ou uma combinação de vários. De modo geral, o povoado se protegia com uma muralha de barro, que rodeava e marcava os limites da aldeia. A exceção a esse tipo de arquitetura rudimentar são os povos de Gana e Mali, no sudoeste, que construíram palácios de plantas variadas e o reino de Lalibela, a leste, onde, a partir do século XIII, foram escavados edifícios e templos nas rochas das montanhas.

ARTE AFRICANA - ESCULTURA



   As esculturas, na arte africana, tiveram uma função semelhante à das máscaras. Apesar disso, encontraram-se também amostras de uma arte representativa, como alguns retratos intencionalmente naturalistas de reis e membros das cortes de certas nações, nas quais ocorreu uma organização mais parecida com a das monarquias ocidentais. As sociedades de religião animista realizavam um tipo de escultura cuja função era substituir os membros falecidos da família.

   As figuras de culto com fins mágicos, que a exemplo dos relicários abrigavam uma diversidade de objetos, eram uma espécie de Assemblages especialmente realizadas por bruxos, seguindo uma fórmula específica. Os povos politeístas, como os yorubas e os binis, modelaram peças de grande valor, em marfim, ouro e bronze, de um desenho singular, muitas delas encomendadas pelas cortes européias. Quanto à técnica, os africanos utilizaram o processo da cera perdida um século antes dos europeus.

   As obras de arte mais comuns obtidas por esse processo eram bustos e cabeças, como as do tesouro do rei de Benim, saqueado no século XIX pelas tropas inglesas. Foi dessa forma que chegou até a Europa grande parte das esculturas de marfim, ferro e bronze. As figuras eram de um naturalismo surpreendente, e nelas podiam ser vistos muitos dos costumes rituais desses povos. No entanto, quando não eram figurativas, apresentavam então traços estilísticos muito diferentes, que refletiam a liberdade criativa de seus artistas.

   No que se refere à ourivesaria, um dos povos que melhor trabalharam nessa área foram os aschantis , já que o ouro abundava em suas terras. Esse povo produzia peças de um preciosismo e uma delicadeza surpreendentes na técnica da filigrana. A eles seguem-se os nativos da Costa do Marfim. Estes, além de peças religiosas, produziram obras com fins decorativos, entre elas máscaras muito naturalistas de personagens legendários, que eram utilizadas numa cerimônia de caráter muito parecido com uma representação teatral.




ARTE AFRICANA - MÁSCARAS



   As máscaras sempre foram as protagonistas indiscutíveis da arte africana. A crença de que possuíam determinadas virtudes mágicas transformou-as no centro das pesquisas. O fato é que, para os africanos, a máscara representava um disfarce místico com o qual poderiam absorver forças mágicas dos espíritos e assim utilizá-las em benefício da comunidade: na cura de doentes, em rituais fúnebres, cerimônias de iniciação, casamentos e nascimentos. Serviam também para identificar os membros de certas sociedades secretas.

  Em geral, o material mais utilizado foi a madeira verde, embora existam também peças singulares de marfim, bronze e terracota. Antes de começar a entalhar, o artesão realizava uma série de rituais no bosque, onde normalmente desenvolvia o trabalho, longe da aldeia e usando ele próprio uma máscara no rosto. A máscara era criada com total liberdade, dispensando esboço e cumprindo sua função. A madeira era modelada com uma faca afiada. As peças iam do mais puro figurativismo até a abstração completa.

   Quanto à sua interpretação, a tarefa é difícil, na medida em que não se conhece sua função, ou seja, o ritual para o qual foram concebidas. Os colonizadores nunca valorizaram essas peças, consideradas apenas curiosidade de um povo primitivo e infiel. Paradoxalmente, a maior parte das obras africanas encontra-se em museus do Ocidente, onde recentemente, em meados do século XX, tentou-se classificá-las. Na verdade, os historiadores africanos viram-se obrigados a estudar a arte de seus antepassados nos museus da Europa.






























quarta-feira, 8 de junho de 2011

ARTE ISLÂMICA - ARQUITETURA

As mesquitas (locais de oração) foram construídas entre os séculos VI e VIII, seguindo o modelo da casa de Maomé em Medina: uma planta quadrangular, com um pátio voltado para o sul e duas galerias com teto de palha e colunas de tronco de palmeira. A área de oração era coberta, enquanto no pátio estavam as fontes para as abluções. A casa de Maomé era local de reuniões para oração, centro político, hospital e refúgio para os mais pobres. Essas funções foram herdadas por mesquitas e alguns edifícios públicos.

No entanto, a arquitetura sagrada não manteve a simplicidade e a rusticidade dos materiais da casa do profeta, sendo exemplo disso as obras dos primeiros califas: Basora e Kufa, no Iraque, a Cúpula da Roca, em Jerusalém, e a Grande Mesquita de Damasco. Contudo, persistiu a preocupação com a preservação de certas formas geométricas, como o quadrado e o cubo. O geômetra era tão importante quanto o arquiteto. Na realidade, era ele quem realmente projetava o edifício, enquanto o segundo controlava sua realização.

A cúpula de pendentes, que permite cobrir o quadrado com um círculo, foi um dos sistemas mais utilizados na construção de mesquitas, embora não tenha existido um modelo comum. As numerosas variações locais mantiveram a distribuição dos ambientes, mas nem sempre conservaram sua forma. As mesquitas transferiram depois parte de suas funções aos edifícios públicos: por exemplo, as escolas de teologia, semelhantes àquelas na forma. A construção de palácios, castelos e demais edifícios públicos merece um capítulo à parte.

As residências dos emires constituíram uma arquitetura de segunda classe em relação às mesquitas. Seus palácios eram planejados num estilo semelhante, pensados como um microcosmo e constituíam o hábitat privativo do governante. Exemplo disso é o Alhambra, em Granada. De planta quadrangular e cercado de muralhas sólidas, o palácio tinha aspecto de fortaleza, embora se comunicasse com a mesquita por meio de pátios e jardins. O aposento mais importante era o diwan ou sala do trono.

Outra das construções mais originais e representativas do Islã foi o minarete, uma espécie de torre cilíndrica ou octogonal situada no exterior da mesquita a uma altura significativa, para que a voz do almuadem ou muezim pudesse chegar até todos os fiéis, convidando-os à oração. A Giralda, em Sevilha, era o antigo minarete da cidade. Outras construções representativas foram os mausoléus ou monumentos funerários, semelhantes às mesquitas na forma e destinados a santos e mártires.

ARTE ISLÂMICA - PINTURA E GRÁFICA

As obras de pintura islâmica são representadas por afrescos e miniaturas. Das primeiras, muito poucas chegaram até nossos dias em bom estado de conservação. Elas eram geralmente usadas para decorar paredes de palácios ou de edifícios públicos e representavam cenas de caça e da vida cotidiana da corte. Seu estilo era semelhante ao da pintura helênica, embora, segundo o lugar, sofresse uma grande influência indiana, bizantina e inclusive chinesa.

A miniatura não foi usada, como no cristianismo, para ilustrar livros religiosos, mas sim nas publicações de divulgação científica, para tornar mais claro o texto, e nas literárias, para acompanhar a narração. O estilo era um tanto estático, esquematizado, muito parecido com o das miniaturas bizantinas, com fundo dourado e ausência de perspectiva. O Corão era decorado com figuras geométricas muito precisas, a fim de marcar a organização do texto, por exemplo, separando um capítulo de outro.

Estreitamente ligada à pintura, encontra-se a arte dos mosaicistas. Ela foi herdada de Bizâncio e da Pérsia antiga, tornando-se uma das disciplinas mais importantes na decoração de mesquitas e palácios, junto com a cerâmica. No início, as representações eram completamente figurativas, semelhantes às antigas, mas paulatinamente foram se abstraindo, até se transformarem em folhas e flores misturadas com letras desenhadas artisticamente, o que é conhecido como arabesco.

Assim, complexos desenhos multicoloridos, calculados com base na simbologia numérica islâmica, cobriam as paredes internas e externas dos edifícios, combinando com a decoração de gesso das cúpulas. Caligrafias de incrível preciosidade e formas geométricas multiplicadas até o infinito criaram superfícies de verdadeiro horror ao espaço vazio. A mesma função desempenhava a cerâmica, mais utilizada a partir do século XII e que atingiu o esplendor na Espanha, onde foram criadas peças de uso cotidiano.

ARTE ISLÂMICA - TAPETES

Os tapetes e tecidos desde sempre tiveram um papel muito importante na cultura e na religião islâmicas. Para começar, comopovo nômade, esses eram os únicos materiais utilizados para decorar o interior das tendas. À medida que foram se tornando sedentários, as sedas, brocados e tapetes passaram a decorar palácios e castelos, além de cumprir uma função fundamental nas mesquitas, já que o muçulmano, ao rezar, não deve ficar em contato com a terra.

Diferentemente da tecedura dos tecidos, a do tapete constitui uma unidade em si mesma. Os fabricados antes do século XVI chamam-se arcaicos e possuem uma trama de 80 000 nós por metro quadrado. Os mais valiosos são de origem persa e têm 40 000 nós por decímetro quadrado. As oficinas mais importantes foram as de Shiraz, Tabriz e Isfahan, no Oriente, e Palermo, no Ocidente. Entre os desenhos mais clássicos estão os de utensílios, de motivos florais, de caça, com animais e plantas, e os geométricos, de decoração.